A forma de lidar com sua própria história diz muito sobre o futuro de uma nação. Reconhecer os erros do passado é o primeiro passo para nunca mais repeti-los. Na Alemanha, por exemplo, os alunos aprendem nas escolas, a partir dos 13 anos de idade, o que foi o regime nazista e o que ele representou para a reconstrução de uma nova pátria, até hoje envergonhada por ideais discriminatórios e desumanos, responsáveis pela execução de milhões de judeus. Todos temos nossos traumas. Enfrentá-los é crucial. A negação, ao contrário, quando não passa de um natural estágio inicial, acaba por distorcer os fatos, levando a um triste quadro onde a exaltação de criminosos sucede à execração de homens briosos e de ideais fraternos.
No último fim de semana, a rodada do campeonato nacional de futebol na Argentina ganhou destaque pelo que ocorreu fora dos gramados. O “Dia Nacional da Memória pela Verdade e Justiça” relembra o 24 de março de 1976, quando o general Jorge Rafael Videla derrubou a presidente Isabelita Perón e deu início a uma ditadura de sete anos, que resultou na morte e desaparecimento de pelo menos 30 mil pessoas. A causa foi capaz de unir Boca e River, além de outros grandes clubes, que manifestaram-se publicamente com a hasghtag #nuncamás, repudiando o que já foi vivido e provocando uma reflexão sobre o que nossos hermanos querem para seus filhos.
Para amanhã, dia 31 de março, o porta-voz da Presidência da República anuncia que o chefe da nação orienta os generais do Exército para que exaltem e comemorem o início da Ditadura Militar de 1964, que duraria mais de 20 anos, calando vozes, censurando artistas, prendendo opositores, dissolvendo o Congresso e matando aqueles que atrevidamente ousavam pensar diferente.
Pobre país que debocha da própria desgraça. Pobre país que ri diante da morte. Pobre país que, sadicamente, exalta torturadores inescrupulosos e desalmados. Pobre país que procura justificar as agressões a mulheres grávidas, a indefesos, desvalidos. Que se esforça para defender o indefensável. Que relativiza a crueldade. Pobre país que insiste em não aprender com o seu passado. Pobre nação, cujos filhos envergonhados e manchados de sangue pedem desculpas por não sentirem-se representados.