Sou natural de Montenegro e fiz minha vida nesta cidade. Meus pais eram moradores da localidade do Pesqueiro. Por infelicidade, eu não conheci meu pai biológico, ele faleceu quando eu tinha apenas um ano de idade. Tivemos um ano muito difícil e triste, devido ao seu falecimento. Minha mãe conheceu um homem extraordinário, o seu Nelson. Como eu era muito novo e não conheci meu pai biológico, foi natural que desenvolvesse o amor e respeito por este senhor que nos escolheu e nos amou como sendo sua família. Eu devo ao meu padrasto a pessoa que sou. Com ele aprendi valores tais como, respeito,a dignidade do trabalho, a ser honesta e sempre ser útil as pessoas que precisam.
Nossa família ficou morando na localidade do Pesqueiro até que eu completei sete anos. Após isso, nos mudamos para a localidade da Vendinha. Nesta época, nossa família cuidava de uma chácara. O proprietário da chácara pagava para meu pai tirar leite e a família trabalhava na roça num sistema que chamávamos de meia. Meia significava que tudo o que plantávamos, como por exemplo: mandioca, milho, feijão, entre outras culturas, era colhido por nós e dividido em duas partes. Uma parte ficava como nossa família e a outra com o proprietário da chácara. Meu padrasto tinha um modo de agir com os negócios que marcou muito meu caráter. Por exemplo: se acontecesse de termos plantado vinte e um carreiros de milho, meu padrasto dava onze para o proprietário e ficava com dez. Este era um princípio de vida que marcou nossa família e moldou nossa noção de moral. Nesta época, nossa rotina, era a de qualquer agricultor familiar. Acordávamos de madruga para tirar leite e alimentar os animais. Depois nos arrumávamos e íamos para a escola. Na parte da tarde, continuávamos na lida da roça.
À medida que crescíamos e passamos da primeira infância, começamos a trabalhar com outros proprietários da região. Sempre no sistema de meia. Cortávamos lenha, colhíamos, roçávamos e assim começamos a ganhar o nosso dinheiro. Dinheiro este que servia para ajudar no sustento da casa. Nossa família era muito pobre, mas nunca nos faltaram amor, paz e respeito dentro de casa. O pouco que tínhamos era dividido, como deve ser numa família amorosa, por isso, posso dizer que nunca passamos fome e nunca nos faltou o básico. Sempre fomos trabalhadores e dedicados aos cuidados da família. Nesta época eu estudei até a quinta série, pois não tinha escola no interior e meus pais não podiam arcar financeiramente com as passagens para estudar na cidade.
O tempo passou, eu conheci minha esposa e aos vinte anos nos casamos. Então, viemos para a cidade e firmamos residência. Eu comecei a procurar emprego e encontrei um pouco de dificuldade, já que nunca tinha assinado carteira. Mas. Aconteceu de eu chegar numa empresa que na época era vizinha do clube Grêmio, na Timbaúva, e encontrar na portaria o seu Pedro. Ele conhecia nossa família desde a época em que morávamos no interior. Os pais do seu Pedro, um casal de idosos, que viviam perto da chácara em que morávamos e que nós sempre ajudávamos quando era necessário. Ou, era uma reforma na casa, ou numa roçada. Enfim, nós cuidávamos deles sem nunca cobrar nada. Naquele momento, eu tive uma experiência com a lei da semeadura. O seu Pedro foi até o engenheiro da empresa e me avalizou.
Mesmo eu nunca ter trabalhado com carteira assinada, consegui minha primeira oportunidade graças a um bem feito no passado. Foi muito importante profissionalmente o período que trabalhei nesta empresa, pois eu inicie como auxiliar, depois como soldador e tive a oportunidade de cursar no período na noite o curso de torneiro mecânico. Após o fechamento da empresa, eu pude sair com uma ótima experiência e uma formação técnica.