E os que choram escondidos? Naqueles lugares secretos que as lágrimas bem conhecem. Seus semblantes alegres passeiam, cumprimentam, são agradáveis, elogiam, posam para fotos. Aqueles olhos breves represam. Transbordam no escuro. Por que há essas tristezas e preocupações? Quando começaram a ser colecionadas? Já nem se sabe, faz tempo. É o canto escuro das lágrimas o mesmo que acumula as dores? Ou há um compartimento para cada? Quem sabe? O que se vê é o sorriso triste, débil sorriso pedindo socorro. Que ninguém tem tempo para dar.
E os que odeiam sorrindo? Quase dá para ouvir o ranger dos dentes quando há o raro silêncio. O ódio, porém, não é tão servil quanto as lágrimas, às vezes ele aflora sem controle. Mas logo vem o sorriso – não me interprete mal – não foi isso que quis dizer. Mas disse e sentiu alívio. Se não dissesse, não conseguiria voltar a sorrir. O ódio não precisa de canto escuro, uma boa justificativa social já o acomoda em paz.
Tudo aquilo que se passa a amar se torna imprescindível. Não há mais vida possível sem o ente amado. Amar une o que estava separado, pois não há outra alternativa.
Odiar separa, mas não afasta; constrói muros, mas deixa brechas, busca a destruição do ente odiado. É um afeto que não se contenta com o esquecimento; este que esquece se chama desapego. Por isso, o ódio sorri para o odiado, precisa mantê-lo tranquilo. Para o bote.
E os que falam para se ouvir? Não há no mundo canção mais doce que a própria voz. Todas as outras histórias convergem para a sua, toda poesia, acaso e astros ali se inclinam. O que buscam essas vozes que se ouvem? Convencer? Reforçar? Consolidar? Coibir? De tudo um pouco que recheia a almofada do conforto. Ouvir é pausa para respirar. Ouvir, claro, o eco mental do que acaba de falar enquanto bocas alheias entoam um ruído desagradável de fundo. Melhor se não houvesse outras bocas, mas há. Essa então, que anseia voltar a se ouvir, consente o ruído alheio com um magnânimo sorriso.
E os que sorriem por genuína alegria? De tantos usos que faz do sorriso, este é o original. É difícil percebê-lo em sua originalidade e honestidade só pelos lábios e dentes. É preciso pedir ajuda aos olhos, braços e intenções. O resto do corpo se desconforta com o fingimento da boca, ele não concorda com muito do que faz sua porta voz. O corpo é refém do que ela fala, sorri e cala. E assim, olhos choram no escuro, estômagos ardem em ira e ouvidos já não se importam. Enquanto isso, o sorriso genuíno e honesto luta para encontrar platéia.