“Você pode ter um novo começo a qualquer momento que escolher, pois o que chamamos de fracasso não é a queda, mas permanecer no chão.” (Mary Pickford – atriz canadense).
Às vezes, o chão é bom lugar para ficar, por um tempinho. Dar-se conta do tamanho do tombo, sentir as dores, avaliar as que vão passando e as que irão ficar. A vantagem de estar no chão é que você para de cair. O cuidado que se tem que ter é desviar de algum escombro que arrastamos.
Quando percebo que vou desmaiar, eu já me agacho para minimizar o tombo, sempre tive medo de quebrar os dentes. Lembro do chão gelado do banheiro no qual fiquei por uns minutos. Estava tão confortável, em contraste com o corpo que queimava em febre. Fiquei ali consciente, pois antecipei o desmaio. Aquele frio do piso foi reanimador.
Também achei uma escova de dentes perdida, de pé, confiante e respeitável, no último canto atrás do balcão, enfeitada pelos delicados véus aracnídeos.
Há períodos na história que um povo inteiro é prostrado ao chão, ou a humanidade. Sempre há os que se levantam e andam e os que já não têm mais forças. Quem levanta o faz por si, pelos que ficaram, pelos que virão e porque não tem outro jeito. No entanto, a maior parte das vidas se dá no tédio do andar. Bípedes que caminham pra lá e pra cá dentro de uma normalidade com mais tropeços cômicos do que tombos trágicos. A tragédia final, o grande tombo que fará todos irem além do chão, é sabida e ignorada porque, primeiro viver, só depois morrer. Quanto mais depois, melhor.
A canção mais famosa da sátira musical “Candide: o melhor dos mundos possíveis”, faz um elogio à guerra, como uma bênção disfarçada, pois une a todos – como vítimas.
Esta sátira foi criada no romance “Cândido, ou o Otimismo”, de Voltaire, em resposta ao racionalismo “do bem” do filósofo Leibniz que afirmou que este é o melhor dos mundos possíveis, pois se Deus escolheu criar este mundo em vez de outro, ou nenhum, e se os atributos de Deus o fazem moralmente perfeito, logo, esta criação é a melhor das possibilidades possíveis. A perspectiva racionalista de Leibniz quer dizer que o mundo é o que é, independente da nossa percepção dele, e claro, passava uma ideia de passividade diante das injustiças e tragédias, já que elas estavam no plano de Deus. Esse ponto de vista irritava Voltaire, daí a criação do romance satírico.
O pessimista diz: o copo está meio vazio. O otimista diz: o copo está meio cheio. O racionalista diz: o copo tem o dobro do tamanho que precisava ter.
Um bom copo sempre induz a algum tipo de filosofia, principalmente e à medida que o vamos esvaziando. E para finalizar, um clichê: ninguém vai sair dessa vivo, então, levanta-te, pensa e anda.