Mortadelismo x Coxismo

A melhor maneira de conquistar engajamento para a resolução de um problema é negociar tendo em mente três pontos:
Concordamos com os objetivos. Queremos os mesmos resultados, estamos apenas tentando maneiras diferentes de chegar lá.

Concordamos com com a realidade. O mundo não é plano, nem preto e branco. Há fatos em evidência, estatísticas, passado, notícias, fontes diversas, experiências. Tudo está na caixa de ferramentas que iremos utilizar para atingir metas.

Concordamos com com as métricas. Se estamos alinhados com objetivos e realidade, temos uma visão comum de como o sucesso deva se parecer.

Pronto! Estamos aptos a engajar na mesma empreitada. Qualquer outra abordagem é um desrespeito aos parceiros e compromete o projeto. Simples e lindo, não é? Então porque brigamos? Não há mais socialismo, comunismo ou capitalismo. Só há coxismo contra o mortadelismo. Por que optamos pelo confronto em vez da cooperação?

Eu tinha um livro de citações, uma coleção de 12 mil frases, lia aleatoriamente para me inspirar. Me deparei com uma de Nietzsche: “Derrubar ídolos – isso sim, faz parte do meu ofício.” A ideia é que ídolos nos induzem à imitação e à segui-los cegamente, comprometendo nossa capacidade de análise de outros pontos de vista. Pô Nietzsche, como tu me diz um troço desses? Tu é meu ídolo!

Comecei a perceber que antes de ler as frases, eu via o autor. Se era de um que eu não gostava, já lia com restrições, se era de um que eu admirava: “Opa! Vem algo genial aí.” Eu estava pré valorizando ou desmerecendo algo para se adequar às minhas crenças. De onde vinha este comportamento?

Fui pesquisar sobre o funcionamento do cérebro e da mente. Descobri que temos um defeito de fábrica, que no passado foi importante para tomarmos decisões rápidas e simples. Somos mais emocionais que racionais e nossa mente sempre vai decidir pelo que avalia ser mais vantajoso para nossa segurança e sobrevivência. Acreditamos em nossos sentimentos, não na realidade. Com isso arredondamos fatos e conceitos para que caibam em nossas crenças pré concebidas. Profissionais de marketing e políticos usam este conhecimento. Nosso instinto diz, com razão, que para estarmos seguros precisamos fazer parte de uma tribo, assim assumimos o discurso dela. Comecei a ler as frases tapando a página com um papel, que ia deslizando no curso da leitura, assim não espiava o autor. Descobri que havia genialidade no “lado negro”. Este defeito cerebral faz com que acreditemos que, se nosso político de estimação está mentindo, é para o nosso bem, se está roubando, é por uma causa maior. Se paga mensalões, é do jogo. Já os políticos das outras tribos são todos crápulas. Assim vamos mantendo uma dieta pobre, à base de mortadelas e coxinhas enquanto os que nos roubam brindam em fartos banquetes.

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