Li uma matéria que contava sobre o motivo de um seriado de TV, que durou 12 anos, ter chegado ao fim. O ator principal que dava vida ao personagem mais icônico e insubstituível da série percebeu que faltavam 6 anos para ele chegar à idade que seu pai morreu. Decidiu, portanto, que queria viver e experimentar coisas novas, aquele era um evento limite para mudanças na vida do ator.
Oficialmente a série acabou porque o tema já estava se esgotando, personagens ficando velhos e sempre é melhor sair de cena quando se está grande no palco.
Não sei se a história sobre o pai do ator tem algo de fantasia de fã ou se foi verdade, mas como na arte, a mentira serve, entre outras coisas, para divertir e refletir.
Mantendo as proporções, financeiras inclusive, faz uns meses que me peguei a pensar que já cheguei na idade na qual meu pai morreu. Não sou fumante como ele era, este vício lhe consumiu a saúde e bons anos de vida, mas a data é marcante. Claro que eu poderia me guiar pelo bom tempo de vida de minha mãe, 82 anos, mas temos mais boa relação com as desgraças do que com as benesses. No fundo conto com a possibilidade de viver até os 80, a partir de hoje, 26 de novembro de 2020, faltam 8.774 dias para eu chegar lá. Como já vivi 20.446 dias, mesmo no cenário otimista me encontro descendo a lomba.
Faz um tanto que venho lutando por uma administração saudável do tempo, entre vida e trabalho, não que este não faça parte daquela, mas meu ritmo foi e continua insano em muitos momentos. O meu vício não foi fumar, mas consumir dinheiro, administrar mal e ser preguiçoso para aprender finanças. Isso vai me custar alguns anos de lazer, mas pelo menos hoje estou mais atento e sábio quanto à gestão financeira. Se estou cansado hoje e tenho que trabalhar mais do que gostaria, é porque queimei possíveis reservas no passado. Sempre persegui o equilíbrio psicológico, sentimental, intelectual. O equilíbrio, porém, tem que ser adquirido e mantido em todas as instâncias, basta um dedinho fora da corda bamba e a vida vai puxá-lo, balançando o resto.
Eu realmente não posso me queixar da minha vida, queixo-me das pequenas coisas nela que ainda não estão bem. E não é um queixume ranzinza…bom, às vezes é…mas meu foco é usar o desconforto para dar o passo adiante. E o que sinto nesse final de ano pandêmico é cansaço.
Não o cansaço saudável do corpo, que embala o sono como ninguém com a sensação do dever cumprido. O cansaço deprimente é esse de ter que explicar o óbvio, de ver tanta gente levando surras voluntárias da realidade, de ter que ensinar o que já era matéria dada e sabatinada. A ignorância orgulhosa é cheia de energia e eu penso hoje que não vale o esforço de combatê-la, mais vale o deleite de ver a realidade dando suas surras. Amanhã talvez eu compre uma briga ou outra, a capacidade dos néscios de nos surpreender é infinita, mas hoje, nesse fim de ano, quero um tempo. Quero minhas leituras, minha vida interna, meus humanos, cães e gatos próximos. Por isso, vou dar um tempo também nesses textos. A gente se vê por aí. Ou não.