Acorda. Senta-se na cama que foi leito de um sono que não descansa. O que cogita o professor, no seu primeiro pensamento? Que força o iça para manter-se sobre as pernas?
Acorda. Senta-se na cama que foi palco do que não sabemos. O que calcula o eleito, no seu primeiro pensamento? Que forças terá que mover para manter-se sobre o cargo?
De um sabemos do rosto, do cansaço, do desabafo, do protesto, do passado. Do desespero de ter que contar trocados. Do outro sabemos da mídia, do palco, do palanque, do impresso, das promessas bem articuladas.
Um encontramos na fila do pão, e firme, em frente aos nossos filhos. Outro encontramos em nossas fantasias, falsas, montado em nossas expectativas.
Como aplaudem o que mita! Como execram o que faz pensar! Enquanto um grita: Acreditem! Outro implora: Aprendam! E quem mita, cresce; quem implora, padece.
Como atua o professor, nesse picadeiro, diante do público que esperava o palhaço? Ou, pior, o super herói acrobata.
Um passo em direção à sala, um abatimento, outro passo, um medo, mais um, um ressentimento, um desespero. Não pare! Dê o próximo passo. Isso passa.
Um passo em direção ao gabinete, uma estratégia, outro passo, uma versão, mais um, uma decisão, a carreira. Não pare! Dê a próxima declaração. Eles esquecem.
Por que ainda ensinam, aqueles que já aprenderam o quanto não valem? Por que ainda protegem, aqueles que são alvos? Que honra e compromisso os costuram a esse podre tecido social?
Um professor que não ensina é uma fábrica de inimigos para os que vestirão a farda. De lá virão as balas, não virão teorias, justiça, ciência, sociedade, paz. O confronto de amanhã está sendo gestado hoje, fruto de um estupro de direitos. Os currados são sempre os mesmos, sempre dá para tirar mais um pedaço de dignidade de quem já está arriado.
Não é uma lição boa nem fácil de aprender. Melhorar. Ninguém sabe bem o caminho, não tem cartilha, manual ou guia. Andamos sobre os escombros do que não deu certo. Aquele que está na sala de aula, luta para que o passado seja lembrado. Aquele que está no palácio, para que seja esquecido. Fazer o novo, de novo. Tropeçar no velho.
Acorda! Qual o seu primeiro pensamento ao sentar na cama? Mais um dia. Está valendo a pena? Se você tivesse mais conhecimento, seria diferente? E se tivesse menos? Onde estaria? Que cama deixaria para trás?
Somos resultado das lições que aprendemos, e geramos resultado com o que aplicamos e ensinamos.
Quem ensina deixa uma cama da qual não está valendo a pena sair, quem protege deixa uma cama a que não sabe se irá voltar.
Levantar todos os dias para enfrentar inimigos e criar novos. Não pode ser esta, a lição.