“Méis”…Não é legal o plural de mel? Também pode ser “meles”, mas méis é mais legal. Apesar de que “meles” é mais mole, sonoridade líquida, sentimos na língua.
E “mamica”? Não é outra palavra que enche a boca? Sem freudismos, fale pausadamente: “Ma-mi-ca”. Dá para sentir as sílabas nos lábios.
“Plúmbeo”, uma palavra fofa como algodão, mas seu significado tem peso. Usa-se “nuvem plúmbea”, referindo-se à sua cor. É uma expressão que carrega uma contraditoriedade poética, já que junta o peso e a leveza. A cor plúmbea tem o peso do chumbo? E a nuvem, pesa? Nuvens plúmbeas trazem chuvas pesadas.
Já “bolota” faz jus a sua pronúncia empelotada.
Gosto também dos substantivos onomatopéicos dos ingleses: “burp” é arroto, “clash” e “crash”, choque, colisão. Não é genial substantivar as coisas pelo som que fazem? É a praticidade anglo saxônica. Por aqui usamos bastante o “tic tac” para se referir à urgente passagem do tempo. Já li por aí o tic tac em forma de verbo, quase um verso: O “tiquetaquear” do relógio…
E “ímã” ? Como foram criar uma palavra que deixa todo mundo fanho? Ímã é uma palavra que se fala metade com o nariz e metade com a boca. Muita gente a considera esquisita. Imagine no filme “X-men”, a frase: “Precisamos deter o Ímã man!” ao se referir ao vilão “Magneto”. Acabaria com a cena.
Já “golesma” não está no dicionário, ainda. É um destes neologismos que brotam das gírias. Ele tem o sentido de “meleca” só que mais nojenta, talvez por ter “lesma” em sua composição. Também é uma das palavras que, quando falamos, parece que a estamos comendo. Sabendo o que significa, até sentimos o gosto do nojo.
Meu filho, aos quatro anos, inventou uma palavra: “Colimbus”, era um nome para coisas que ele não sabia o nome. Descobri que “Colimbu” é uma ave, um mergulhão.
Outro dia minha filha ficou impressionada com a palavra “flâmula”. Quem usa isso? perguntou-me. Ora, é mais fácil que usar “galhardete”, respondi.
No palavreado do pampa há pérolas como: “embodocado” , “surungo”, “goela”, “esgoelado”, e por aí vai.
Já os nordestinos cunham termos do tipo: “Afolozado”, “abestado”, “buliçoso”, “cafuçu”…
Que prazeroso ofício este de garimpar palavras. Olha esta:
“Mamihlapinatapai”
No idioma indígena Yagan, falado por povos de Tierra Del Fuego, esta palavra designa a troca de olhares entre duas pessoas, quando uma delas deseja que a outra tome iniciativa para fazer algo que ambas querem, mas que estão relutantes em fazer.
No nosso português-bagual seria um “não caga nem desocupa a moita”.
O linguista e filósofo Ferdinand de Saussure ensinou que o signo linguístico constitui-se da combinação de significante e significado. O significado todo mundo sabe o que significa: a coisa a que se refere a palavra. O significante é uma “imagem acústica”. Eu acrescento, me perdoe Saussure, gosto e textura às palavras.
Ma-mi-ca…