Pra te dizer que ao ver as luzes apagadas, com todo espanto, percebi o fim de uma era e meu coração ficou partido ao caminhar pela Osvaldo Aranha em fevereiro. Ver o espaço vazio, com as luzes apagadas, perceber um mundo que não existe mais e a saudade que dá.
Pra te dizer do dó sentido pela cidade, pela ausência de bom gosto que passa a imperar pelas ruas.
Pra te dizer que fui uma criança que ao passar por ali sonhava que aqueles jeans maravilhosos fossem um dia vestir meu corpo magrinho e o quanto era admirável ver as moças da cidade “maiores do que eu” desfilando pelo clube com aquela bossa do jeans com cintura alta e cinto de corda escuro, jaqueta curtinha, moletom cinza com rosa claro, as botinas e as sapatilhas de camurça com solado de borracha usadas com as meias divertidas e coloridas que só tinham na loja. Opa: as meias logo me serviram e ganhei várias da minha avó!
Pra te dizer sobre amizade e confiança: buscávamos tudo que o meu pai vestia na forma condicional, para provar e escolher as peças em casa, já que ele jamais entraria na loja, mesmo só vestindo as camisas de flanela xadrez da “fábrica do Tadeu” – depois as “roubava” emprestadas na fase grunge para usa-las enormes mesmo. Os blusões decote V que não criavam bolinhas que eu ainda tenho alguns e as calças resistentes ao trabalho no guindaste que só se encontravam lá.
Pra te dizer como era bonito de ver o capricho das ambiências de moda jovem que criavas todas as semanas junto às gurias da loja para as vitrines e pensava: estou tendo as primeiras lições sobre o que é combinação de cores, sobre o que é arrojado, jovial e “cool”. Embora desconhecesse esses termos de fato.
Pra te dizer que sou grata pelo aprendizado e acolhida no estágio da graduação em Design de Moda, pela oportunidade de acompanhar os processos da camisaria junto à equipe. Como admiro a mulher que sempre encontro tão gentil com todos, vestindo camisa branca e calça reta como ninguém.
Então, como não sei por que não te liguei ao ver a nota sobre o encerramento das atividades da Paratodos na capa do Ibiá de 21 de fevereiro passado, essas recordações e palavras me vieram com todo carinho e respeito à inspiradora mulher que és, e desta forma, talvez a mais possível de comunicação para o momento, abraçar a todas nós.
O Vestir e a Cidade:
Nesta data, se estivesse vivo, meu pai Eduardo completaria 76 anos. Nesta foto, nos anos 1990, ele está ao piano, tocando sua música favorita “My Way”, que dizia muito sobre ele.
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