Esta edição do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi, de todos os pontos de vista, a mais incerta e cheia de dúvidas. É o Enem 2020, mas, realizado em 2021. E, faltando poucas horas para a prova ocorrer, ainda havia expectativa sobre um possível cancelamento. Houve também muitos questionamentos sobre se Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) cumpriria regras de distanciamento e higienização. Na prática, a logística do Enem já é extremamente complicada em anos normais e a pandemia acrescentou desafios ainda maiores.
Na porta das escolas o que se viu foi estudantes cheios de dúvidas. E isso não diz respeito à prova de Português, Matemática nem de História. O nervosismo também não era fruto apenas por ter de fazer uma redação. Nossos jovens tiveram um ano muito difícil. Os que estudam em escolas públicas ainda mais. Aqueles com carências – de alimento, de residência, de internet ou de suporte familiar – passaram muito longe de estar devidamente preparados para o exame. Mas isso não quer dizer que tenham “jogado a toalha” e desistido do que, talvez, seja o momento mais importante de suas vidas até aqui.
O Enem abre portas a universidades públicas que utilizam sua nota como critério de escolha dos calouros, abdicando de vestibulares próprios ou fazendo seleções que mesclam os dois modelos. Há, ainda, portas abertas em instituições privadas, através do Programa Universidade para Todos (Prouni).
Muitos jovens oriundos de famílias carentes têm no Enem a única oportunidade de, no futuro, tornarem-se médicos, jornalistas, dentistas, engenheiros, professores, administradores e etc. Depositam nesta prova todas as expectativas por uma vida melhor. E não permitiriam que um vírus lhes tomasse a chance de entrar na faculdade. O mesmo pode ser dito dos estudantes da Escola Estadual de Ensino Médio São José do Maratá, de São José do Sul, que tiveram a formatura neste sábado, 16. Certamente, eles não tiveram o ano letivo dos sonhos. Mas não desistiram. Justamente, porque têm a realização de muitos sonhos pela frente.
Se nós já sabíamos que a educação não era uma prioridade no Brasil, a pandemia nos mostrou que temos verdadeiros abismos educacionais entre as classes sociais. Não funcionou para todos. E se quisermos manter um modelo híbrido de ensino, teremos de levar isso em consideração. Agora que, felizmente, estamos às portas de iniciar a vacinação que permitirá a retomada das atividades cotidianas sem medo de contaminação, talvez nem valha discutir o assunto, mas sempre será válido enaltecer o esforço de quem, mesmo diante de tantos problemas, dedicou-se a estudar. Os que conseguirem agora uma vaga na universidade, terão já seu prêmio. Os demais terão de tentar novamente no ano que vem. O que não se pode é desistir de estudar. Porque disso depende o avanço do país.