Você sabe com quem está falando?

A pergunta acima, também conhecida como “carteiraço”, é uma realidade para muitos brasileiros, em geral humildes, quando são obrigados a confrontar alguém que possui dinheiro ou exerce uma profissão que lhe dá poder ou status. É uma excrescência, que merece a “descarga”, mas que teima em sobreviver sob o manto da arrogância e da ignorância. O mais lamentável é que geralmente os usuários dessa técnica de intimidação são aqueles que, por terem mais informação e uma educação privilegiada, deveriam estar dispostos a seguir as regras válidas para o conjunto da sociedade.

Aconteceu de novo neste final de semana. Uma médica de 26 anos e o namorado dela, um engenheiro de 27, foram presos em flagrante na madrugada de domingo em Pirenópolis (Goiás), suspeitos de ameaçar servidores da Saúde, danificar um carro da prefeitura local e desacatar policiais militares. Segundo as autoridades, ambos estavam bêbados e pararam o carro em uma avenida da cidade, atrapalhando o trânsito. Agentes da Vigilância Sanitária que estavam passando pelo local pediram que estacionassem o veículo adequadamente. Começou um bate-boca da médica, que estava dirigindo, e do engenheiro com as profissionais da saúde. O rapaz desceu do carro e quebrou o pára-brisa de um veículo da prefeitura.

Conforme a ocorrência policial, as agentes ficaram assustadas e acionaram a polícia, que encontrou os dois em outra avenida da cidade turística. Eles resistiram à abordagem, recusaram-se a fazer o teste do bafômetro e foram conduzidos à delegacia. Ficaram presos durante cerca de 30 horas e só foram liberados depois de pagarem fiança de R$ 5 mil cada. A médica foi autuada por embriaguez ao volante, desacato e desobediência. O engenheiro responde por dano qualificado, desacato e desobediência.

Lamentavelmente, situações deste tipo são muito mais comuns do que as pessoas imaginam. Raramente ganham os holofotes da mídia porque a intimidação acaba funcionando. Com medo de perderem os empregos e até mesmo de serem agredidos, muitos “engolem o sapo” – e o choro. Se algumas pessoas fazem isso com fiscais e agentes da Polícia, imaginem como tratam garçons, entregadores e outros prestadores de serviços.

Comportamentos com os dessa dupla só deixarão de existir quando a lei realmente pesar no bolso. O que são R$ 5 mil para uma médica ou para um engenheiro? Se a liberdade deles custasse pelo menos dez vezes esse valor, talvez o episódio servisse de lição. Mas sabem o que realmente causaria algum efeito: uns dois ou três dias no “xilindró”. Para sentirem, de verdade, o que é ser humilhado!

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