Você conseguiria ler todo esse jornal sem fazer nenhuma parada para conferir o telefone celular? Um simples hábito do dia a dia não mais escapa incólume da nossa obsessão pelos dispositivos móveis. Note que a dificuldade de concentração para leitura é um dos vários impactos que comunidades dos mais variados pontos do mundo têm vivenciado em consequência do vício digital. A linha entre o uso e o abuso se revela tênue e, cada vez mais, parece fugir do controle.
Não se pode negar as facilidades advindas dos avanços tecnológicos. A comunicação entre as pessoas assumiu uma velocidade inimaginável e derrubou todas as fronteiras (exceto em nações administradas em regime ditatorial). A questão sobre a qual é preciso refletir diz respeito às aplicações desses recursos no dia a dia. Mais uma vez, a humanidade confronta-se com a ausência de limites e bom senso.
O uso excessivo de redes sociais, telefones, computadores e outras plataformas digitais é, sem dúvida, um dos principais responsáveis pela intolerância, preconceito e ódio que permeiam as relações humanas. A utilização demasiada desses meios insere as pessoas em “bolhas” em que só existe uma verdade, porque os algoritmos selecionam apenas conteúdos afins aos usuários. Se assiste e se lê apenas aquilo a que estamos acostumados. Essas práticas, repetidas à exaustão, deformam em vez de formar. Repelimos o que traz estranheza.
Infelizmente, o espírito crítico das pessoas definha ante tais costumes. Involuímos em vez de progredirmos. Daí por que notícias falsas prosperam, distorcendo valores humanos, elegendo déspotas em regimes democráticos, espalhando temores. Os recursos tecnológicos precisam ser nossos aliados, e não uma doença, tampouco uma arma apontada contra a democracia.