Uma dolorosa comemoração

É com um misto de alegria e tristeza que comemoramos os cinco anos da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) de Montenegro. A importância da instituição, obviamente, não está em discussão. E, caso estivesse, sobram números para exemplificar sua necessidade. Apenas os casos de registro por Ameaça chegam a 412 por ano.
A razão da tristeza também é óbvia. Comemoraríamos numa sociedade em que as mulheres não fossem agredidas. Infelizmente, essa está muito longe de ser a realidade do Vale do Caí. E, diante desta situação, precisamos aplaudir o fato de que a Deam exista em Montenegro, liderada por profissionais sérios, que não se amedrontam com o tamanho do seu desafio.
Uma das metas da Delegacia é incentivar que as vítimas também criem coragem para por fim ao ciclo de maus-tratos. Esta é uma bandeira que precisa ser levantada por toda a sociedade. Quando uma mulher é humilhada ou espancada e fica calada não é porque ela gosta de ser subjugada ou inferiorizada, com alguns citam em comentários preconceituosos. Ela permite-se ser tratada de forma porque não tem estrutura familiar, psicológica ou financeira para sair do círculo de violência em que se encontra. Se cala por medo, seja de ficar só, de ser julgada pela sociedade ou de não conseguir tocar a vida sem aquele homem que não lhe ama nem oferece felicidade, mas a quem se sente amarrada. Se ela tivesse apoio seria diferente. Infelizmente, nem todas o têm.
Também estamos falando aqui de homens doentes. Não é possível oferecer outro nome a alguém que se julga dono de outro ser humano. A clássica frase “se não for minha não será de mais ninguém” é tão doentia quanto comum. Primeiro porque ninguém, independente do estado civil, tem a posse de outro ser. E principalmente porque vincular a sua felicidade ou existência aos desejos de outra pessoa não é e nunca será saudável. Mas isso não anula os crimes que esses homens cometem contra suas companheiras. E para que eles sejam punidos de forma exemplar, servindo de exemplo aos demais que a Deam existe. Tomara que um dia ela não seja mais necessária. Enquanto isso não ocorre: parabéns. Pelos 5 anos e, principalmente, pelo trabalho prestado.

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