As notícias sobre o envolvimento de policiais em quadrilhas que roubam e matam são relativamente comuns Brasil afora. No Rio de Janeiro, algumas comunidades já não conseguem distinguir mocinhos de bandidos porque muitos fardados passaram a usar o poder e a força para extorquir os moradores das favelas. Felizmente, aqui no Sul, salvo poucas e lamentáveis exceções, a Brigada Militar continua sendo uma referência de ética, honestidade e dedicação na defesa do cidadão. Seus rígidos mecanismos de seleção e códigos de conduta mantêm os pilantras fora dos muros dos quartéis.
É justamente por isso que a sociedade gaúcha recebeu com surpresa e pesar a prisão de dois PMs do 20º Batalhão, de Porto Alegre, por assassinato. A detenção ocorreu no dia 4, mas foi confirmada somente na segunda-feira. Tudo começou no dia 26, quando agentes da 5ª Delegacia de Homicídios localizaram um corpo com marcas de tiros na zona leste da capital. Não havia identidade nem testemunhas.
No dia seguinte, porém, uma ocorrência de desaparecimento foi registrada pela mãe de um rapaz de 20 anos. Às autoridades, a familiar relatou que vizinhos viram que o filho estava na rua quando foi levado por PMs numa viatura. O rapaz ainda teria dito aos presentes: “avisa a minha mãe que a Brigada me pegou”. As digitais confirmaram que o corpo era do rapaz sumido e testemunhas reforçaram a versão do envolvimento dos brigadianos.
Obviamente, é muito cedo para fazer qualquer tipo de juízo. Nas redes sociais, formaram-se duas correntes. Uma, buscando a tradicional inversão de papeis, transformando a vítima em culpado. “Se ele foi detido, boa coisa não era”, “Bandido bom é bandido morto”, bradaram os mais exaltados. Na linha oposta, antes mesmo do fim do inquérito, há quem condene os policiais. “Esses policiais são corruptos, foi queima de arquivo” e “O trabalhador não pode mais confiar na Brigada” teclaram.
Ambos os grupos estão errados. Não se pode culpar ou inocentar quem quer que seja sem uma apuração profunda e isenta. O mais correto e sensato é deixar as autoridades fazerem o seu trabalho. Ao longo das décadas, a Brigada Militar tem escrito uma história de coragem e de respeito pelo cidadão. A corporação, com certeza, é a principal interessada em esclarecer a situação. E, se houver culpa, fará o necessário para que outros agentes não se sintam estimulados a trocar de lado na luta contra o crime.