Tornou-se expressão popular chamar de novela uma situação que parece não ter fim, que está se desenrolando a tempo, que é repetida e com reviravoltas. Em janeiro de 2024 é justo atribuir este rótulo à situação do segundo poço artesiano na comunidade interiorana de Montenegro Bom Jardim. Há mais de quatro anos perfurado, com infraestrutura básica construída, e com os cidadãos precisando, ele segue inativo.
Vamos partir do princípio que garantir acesso ao direito básico da água potável é uma responsabilidade dos governos. Nele está muito de respeito e de humanidade, mas também fortemente presente a preservação da saúde dos moradores. Chegado mais um verão, e daqueles em que as traquinagens do “El Ninõ” lá no oceano provocam temperaturas escaldantes no continente, a comunidade vive em tensão de abrir a torneira. Nunca sabem se vai correr apenas um fio d’água ou não cair nenhuma gota.
Mas façamos justiça que o fato do poço ter sido perfurado, operação mais complexa em um projeto desta natureza, confirma que há boa intenção do último e do atual governo. O anterior talvez muito com muito mais intenção, mas com pouca efetividade, uma vez que a atual presidenta da associação comunitária afirma que o reservatório teria sido entregue com um furo. A atual administração demorou em assumir o controle da situação, mas corrigiu o defeito deixado por sua antecessora.
Agora convenhamos! A comunidade precisa ter o mínimo de organização. Estar reunida em associação ou cooperativa é uma das práticas mais antigas, e bem sucedidas, da humanidade. Dizem antropólogos que o ‘homem’ deixou de ser nômade e passou viver coletivamente pra garantir segurança, mas certamente também pela sobrevivência em termos de alimentação. Dito isso, Bom Jardim precisa assumir sua responsabilidade no processo de bem estar coletivo, não esperando que tudo seja feito pelo Poder Público.
Ao entramos em mais um verão sem o poço dois estar em plana vazão, descobre-se que escolhas equivocadas atravancam um projeto essencialmente simples. Os governos municipais talvez não tenham colaborado muito nesta parte. Todavia não faltam opções de consultoria, de especialistas dentro da Prefeitura e exemplos como da comunidade de Santos Reis. A própria Bom Jardim tem expertise no tratamento, distribuição e cobrança pela água do poço um, mas que parece terem esquecido.