Enquanto o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal deliberam, cada um a seu modo e com base em seus próprios interesses, sobre a prisão ou a liberdade para criminosos condenados em segunda instância, a sociedade dá sinais cada vez mais ostensivos de que está cansada da corrupção. Uma das manifestações mais visíveis deste descontentamento pode ser encontrada em profusão nas redes sociais: a toda hora, surgem novos vídeos de agentes públicos sendo hostilizados durante vôos domésticos em diferentes regiões do país.
O enredo varia pouco. O figurão entra no avião, afivela o cinto e é reconhecido por algum passageiro. Este cochicha com o colega de poltrona e a informação circula rapidamente de uma extremidade a outra. Logo aparece alguém mais corajoso para ofender a ‘excelência” em questão e outros se unem nas vaias e nos xingamentos. Acuado, o alvo chama a equipe de bordo, que pede calma a todos e, muitas vezes, é obrigada a buscar o bom senso entre os manifestantes, que chegam a pedir a retirada do sujeito do vôo antes da decolagem.
A última vítima foi o ex-senador Lindbergh Farias, chamado de “ladrão” pelos passageiros de um avião que os levaria de São Paulo ao Rio de Janeiro, mas a lista de alvos é extensa e vai da direita à esquerda. Inclui figuras como o deputado federal José Guimarães, aquele da cueca recheada de dinheiro; o senador Romero Jucá, líder do governo Temer, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann; e a ex-líder do governo Bolsonaro, Joice Hasselmann. E não podemos esquecer do ministro do STF, Ricardo Lewandoski, que chegou a ameaçar seus detratores de prisão.
Nem todos se deram conta ainda, mas a tolerância dos brasileiros em relação aos seus representantes, nos três poderes, está muito próxima de zero. Esta revolta foi construída lentamente, ao longo de muitos anos de decisões contrárias aos desejos da maioria da população. Estamos caminhando perigosamente para um cenário em que “todos” serão considerados culpados quando algo de ruim acontecer porque, enquanto alguns roubavam, os outros faziam de conta que não viam. Plantaram o vento e, agora, eis a tempestade.