Opiniões assentadas em fatos, não em paixões nem fanatismos, classificam a prisão do ex-presidente Lula como um gesto histórico no combate à impunidade. Nada disso irá prosperar, no entanto, enquanto o presidente Michel Temer, todo respingado por denúncias, não for submetido aos rigores da lei, que via de regra são aplicados pelas instâncias judiciais iniciais. As patacoadas mais recentes vistas no Supremo Tribunal Federal (STF) falam por si e colocam em xeque as decisões dos ministros.
A faxina que o país precisa não pode restringir-se ao encarceramento do ex-presidente. Avanços institucionais, com resultados de médio e longo prazo, somente serão efetivados na hipótese de a limpeza não ater-se a bandeiras partidárias nem ideologias. Contudo, as investigações contra Temer face à MP dos Portos ainda não convencem a sociedade, de modo que muita gente acredita que as grandes raposas da República escaparão ilesas ou, no máximo, com escoriações.
Levantamento do Congresso em Foco mede em números a desesperança que paira até mesmo dentro do Parlamento. Estudo divulgado esta semana pelo site indica que a corrupção não vai diminuir no país nos próximos 12 meses, na visão dos parlamentares mais influentes da capital federal. Apenas 11,5% das lideranças acreditam que o combate ao roubo do dinheiro público irá melhorar nos próximos meses. Outros 48,1% apostam que a situação continuará como está, enquanto 38,5% preveem piora nesse cenário, mesmo com a Lava Jato.
A pesquisa aponta, ainda, que somente 28,85% das lideranças no Senado e na Câmara acreditam que a quebra do sigilo bancário de Temer irá embasar uma terceira ação contra o presidente. Neste caso, o ambiente político sofrerá novo abalo e a instabilidade do país, para a tristeza de todos, continuará fazendo a nação patinar. Mas é um mal necessário. Não há, porém, como o Brasil evoluir sem que se sinta alguma dor.