“O homem branco não respeita a alma do rio”, seria um provérbio proferido pelos povos originários ao ver os invasores instalarem suas colônias nas várzeas dos rios. Por necessidade, mas também comodidade, muitas cidades estão coladas as margens dos cursos d’água, desenvolvendo, sobretudo, a agricultura. Mas com o avançar dos anos, as comunidades pagaram o preço desta escolha, sendo flagelados anualmente por enchentes e seu rastro de prejuízos. A solução de mudar bairros inteiros de lugar é totalmente utópica, até mesmo para países classificados como de primeiro mundo.
A controvérsia se amplia quando, na esteira do debate, se misturam direito à moradia e preservação do Meio Ambiente. Este debate chegou agora a Pareci Novo, cidade que, como muitas outras da Bacia Hidrográfica do Rio Caí, tem parte do seu bairro Centro dentro da Área de Preservação Permanente (APP) do rio. O fato é que o município se desenvolveu com a Zona Urbana dividindo espaço com a várzea, e com nascentes de cursos d’água da vegetação ciliar incorporadas aos quintais residenciais.
Tudo cresceu ao redor destes pontos de preservação, que, após legislação específica, foram protegidos. O mesmo não ocorreu com os leitos dos arroios, que sofreram com toda ordem de estruturações e contenções que permitissem aos cidadãos viverem naquele lugar. O progresso suplantou a natureza!
Então, como não se pode arrancar as pessoas de onde elas criaram suas raízes, especialmente por que o investimento com indenizações e novas construções seria de cifras bilionários, o jeito foi mudar a regra. Não é o ideal, mas é o que se pode fazer diante de uma cidade consolidada à beira do Rio Caí, cenário que inclusive se repete em Montenegro.
Os antepassados fizeram escolhas que hoje obrigam decisões antipáticas, pouco eficientes, quase improvisadas e politicamente incorretas. Enquanto cresce a discussão mundial a cerca de proteção à flora e fauna, uma necessidade dá como opção mudar a lei, e assim garantir que lares sejam preservados. A realidade das cidades é se adaptar, com um verdadeiro jogo de cintura para harmonizar o sistema.
Libera-se de cá, se aperta de outro lado. O homem e o animal ficam prensados pelo desenvolvimento, mas ao menos o primeiro poderá curtir as benesses. A contrapartida será encontrar compensações, como, por exemplo, um projeto macro para despoluir o Rio Caí.