As mulheres representam mais da metade dos brasileiros. Nosso país também tem, percentualmente, mais negros e pardos do que brancos. Então, por que o perfil médio dos candidatos a vereador de Montenegro é homem branco, com Ensino Médio completo e idade entre 40 e 60 anos? Entre as profissões, grande parte é empresário, aposentado ou funcionário público. Onde estão os nossos jovens, operários, mulheres e os negros? Nem todos dão a devida relevância ao que estes números dizem, alegando que o fator decisivo está na capacidade dos candidatos de lutar por causas da comunidade como um todo e não necessariamente de determinado grupo, seja de raça, sexo ou classe social. Porém, é preciso reconhecer a importância da representatividade.
Um jovem nascido numa periferia pobre de sua cidade – seja ela qual for – precisa olhar para o legislativo do seu município e encontrar lá alguém que o represente. Alguém que se assemelhe a ele e à sua família. Assim ele saberá que também pode chegar onde desejar. Que sua voz também pode ser ouvida. E que os problemas da sua comunidade também importam. As mulheres merecem ter representantes nos cargos públicos não apenas porque este é um direito, mas também porque somente assim as demandas delas serão realmente ouvidas. O mesmo pode ser dito a respeito das questões raciais. É assustador pensarmos que, em 147 anos de história, Montenegro nunca teve um vereador negro. E, no atual pleito, dos 103 concorrentes, apenas oito aspirantes à Câmara declararam-se descendentes de africanos.
Existem ações para tornar a eleição mais representativa. Atualmente, 1/3 dos candidatos a vereador de cada partido deve ser do sexo feminino. Há correntes defendendo que também se coloquem cotas raciais. Isso, porém, está longe de oferecer o resultado esperado, já que, em alguns casos, os partidos não apostam nas candidatas e elas se tornam apenas um número. São, também aqui, usadas e descartadas, assim que o pleito acaba. Isso mostra o quão distorcida é a nossa democracia. A questão na qual todos precisamos pensar é a razão para que essas discrepâncias se mantenham eleição após eleição.
A solução passa por oferecer oportunidades. E isto não virá por outro caminho se não o da educação. Isto para mudar muito mais que uma simples legislatura, mas a sociedade com um todo. É uma mudança tão lenta quanto profunda e importante para todos nós.