Um povo costuma construir sua história sobre heroísmo, considerando guerras contra tiranos por Liberdade e redenção como seus feitos mais notáveis. Não há nada de errado nisso, criando inclusive belas lendas e folclores para serem perpetuados. Todavia, e essa é perseguição dos Historiadores, a verdade deve prevalecer, com todos os seus bastiões devidamente reverenciados. A inclusão da tropa de Lanceiros Negros no panteão de heróis nacionais corrige uma injustiça da Revolução Farroupilha. Mais do que isso, destapa um fato negado, ao tirar a venda de muitos olhos que se negavam a ver.
Não raramente a importância destes guerreiros escravizados era abordada de forma abreviada, e muitas vezes citando-os com carga de excentricidade desta revolta contra a Coroa de Dom Pedro II. Da mesma forma a motivação daqueles homens era ressaltada para justificar sua presença unicamente por interesse; como se cada coronel estancieiros e seus peões não tivessem lá suas ambições. Toda guerra é motivada pela busca de poder, sendo na sua maioria instigada por um grupo social, quando não por uma úncia pessoa.
Os Lanceiros Negros lutavam pelo que há de mais caro ao Ser Humano, que é a Liberdade. Sua liberdade, que lhes foi arrancada de forma desumana, foi pendurada na ponta de uma lança como se fosse um tesouro pelo qual não tinham legitimidade. Certamente não tinham opção de se negar, tampouco de desertar diante da morte iminente que lhes aguardava de tocaia nos Pampas.
Resumindo a longa história que permeia a odisséia Farrapa, temos o elemento norteador dos destinos de mulheres e homens negros no Rio Grande do Sul. Assim como aos Lanceiros foi negado o status de heróis, aos trabalhadores do campo e da cidade é negada a contribuição ao desenvolvimento. Mas nada que difira do Brasil que embranqueceu vultos como Machado de Assis e fez questão de destacar a negritude de Zumbi quando tratava de reduzí-lo a um bandido.