O feminicídio brutal da personal trainer e campeã fisiculturista Debby Michels causa pavor e repulsa. Sobretudo pelo requinte de crueldade por parte do acusado, que, em meio à madrugada, abandonou o corpo da companheira em frente à casa dos pais dela. O quão um homem consegue se acreditar na posição de proprietário da mulher para usufruir de sua vida?
A resposta surge truncada, pois está sendo feita no tempo presente. Em 2024, há homens minimamente desconstruídos na sua postura de ‘alfa’ para saber que o outro ser humano não lhe pertence, e que em hipótese alguma tem controle sobre vontades, pensamentos e atitudes. Assim, o questionamento ecoa até encontrar uma interpretação, mas que ainda soa vaga. Mas se jogarmos essa dúvida séculos para o passado então encontremos mais clareza.
A selvageria contemporânea é enraizada no passado explorador do homem sobre a mulher; repassada com interesse econômico pelo pai e recebida pelo esposo apenas como reprodutora para perpetuar seu sobrenome. Este fator histórico – ainda que pareça esdrúxulo em dias atuais – deve ser considerado ainda hoje. Não como justificativa, mas como elemento para educar meninos e repudiar machistas adultos. Não pode ser aceito com o argumento “eram outros tempos”, pois permite rever o quanto os machos se consideram em posição de superioridade.
Essa essência perpetuada é que resulta em execuções com grau de violência que não se iguala a qualquer outra situação. A grande maioria das pessoas não deseja este nível de dor sequer a um criminoso; mas vê – muitas vezes pacificamente – uma mulher dilacerada à luz do dia e no meio da rua somente por ter dito “não”. Já os executores, sabem que não teriam a mesma coragem contra outro homem que tenha lhes atacado de alguma forma; mas se acreditam ofendidos o suficiente por quem um dia disseram amar.
Temos o trabalho das policias para descobrir a verdade e as Leis exemplares para punir. Ainda assim presenciamos o lado mais nefasto do homem contra a mulher. Primeiro, que se fortaleça cada vez mais a rede de proteção e que se conscientize a respeito da denúncia, como direito das vítimas e responsabilidade das testemunhas. Além da Educação, essas são as formas que temos de derrubar o mito do instinto como desculpa à falta de caráter, à covardia de quem usa medo e violência por sua ausência de dignidade, respeito e humildade.