Passando vergonha

Precisamos falar sobre corrupção na política. Sim, é um tema chato, um debate cansativo e, em geral, estéril. Nossos políticos nunca vão mudar e a maioria, mesmo que tenha boas intenções ao se apresentar como opção ao eleitor, acaba se corrompendo quando alcança o poder. Embora os métodos tenham sido refinados ao longo dos últimos 500 anos, a essência é a mesma: ganhar mais do que merecem, nem que, para isso, outros fiquem sem nada. Não importa se o governo é de esquerda ou de direita, sempre tem alguém roubando, aproveitando as brechas na lei para encher os bolsos.

Precisamos falar sobre a corrupção no nosso dia a dia. De tanto ver nossos representantes “metendo a mão”, muitos brasileiros chegaram à triste conclusão de que, se eles podem e não acontece nada, não há problema em fazer o mesmo. Stanislaw Ponte Preta, pseudônimo do jornalista Sérgio Porto, cunhou uma “máxima” que sintetiza essa realidade: “Ou restaure-se a moralidade ou locupletemo-nos todos!” Como não há condições de acabar com a safadeza, a segunda parte da frase ganha cada vez mais força.

Há cerca de duas semanas, o governo federal passou a divulgar, no site da Transparência, os nomes de todos os beneficiários do Auxílio Emergencial, criado para socorrer trabalhadores informais e desempregados que ficaram sem renda por causa da pandemia. É possível pesquisar por cidades e basta uma rápida lida nos quase 1.000 nomes de montenegrinos que estão ali para ver as fraudes. Tem de profissionais liberais que costumam “ostentar” até filhos de empresários que não se importam de torrar valores muito próximos dos R$ 600,00 numa única “balada”.

O fenômeno se repete em todo o país e já levou o Ministério do Desenvolvimento Social a anunciar um pente fino nas concessões. Até porque, na outra ponta, há milhões de brasileiros que precisam realmente do dinheiro e não têm acesso a ele. O certo seria colocar os fraudadores na cadeia, mas com que moral o Estado brasileiro, sempre benevolente com quem rouba milhões, vai encarcerar quem suprimiu três parcelas de R$ 600,00?

O fato é que essa situação é insustentável. A única maneira de estancar a sangria parece ser a exposição dos criminosos que se locupletam do erário e torcer para que ainda resida neles um pingo de vergonha. Talvez, se forem apontados na rua, eles pensem duas vezes antes de pegar o que não lhes pertence.

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