Para que servem os números?

O Brasil passa por um momento que beira à insanidade. Sim, a pandemia é mundial e nossos gestores públicos não podem ser culpados pela sua chegada ao Brasil e, em parte, até mesmo pelas mortes. É verdade que se trata de um vírus novo, sem vacina nem remédio até o momento, e ao qual as populações não tinham imunidade. Portanto, óbitos aconteceriam inevitavelmente. Mas alguns países, como a Argentina e a Nova Zelândia, mostraram que a boa condução de uma crise deste porte é possível. Com regras sanitárias adequadas, menos gente fica infectada e, num sistema de saúde eficiente, pessoas não morrem por falta de leito em UTI.

Infelizmente, o cenário brasileiro é muito diferente do destes dois países. Até ontem, já tínhamos passado dos 36 mil mortos e nos aproximávamos dos 700 mil casos. E aqui, além de lidar com os óbvios problemas – de saúde e econômicos – causados pela Covid-19, o povo ainda precisa lidar com divergências perigosas nos dados. Mundialmente, os números da pandemia são analisados por profissionais da saúde para basearem ações que, lá na ponta, salvam vidas. Mas aqui no Brasil eles viram joguete político. Agora o nosso Ministério da Saúde anunciou uma suposta recontagem de mortos. Ministério esse que não tem ministro efetivo há três semanas, após dois médicos abandonarem o posto sem conseguir trabalhar segundo as regras da ciência e do juramento à vida que fizeram.

No último final de semana, números contraditórios foram divulgados. O que era para trazer informação, causou confusão e os responsáveis foram cobrados pela imprensa, que não desistirá de cumprir sua função social, e também por representantes de outros poderes. Nas redes sociais, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, afirmou que ‘brincar com a morte é perverso’. E, na manhã desta segunda-feira, veio a público a informação de que ex-integrantes da equipe de Luiz Henrique Mandetta, ministro da Saúde desde o início do governo Bolsonaro e, portanto, no começo da pandemia, lançaram uma plataforma com dados atualizados sobre a evolução do coronavírus no país. O site reunirá automaticamente dados das secretarias estaduais de Saúde, sem nenhuma manipulação.

A pergunta que fica é: precisava ser assim? Nos parece que toda essa energia poderia estar sendo gasta em outra direção, sem brigas e com união. Os gestores públicos descobrirão logo ali que podem até tentar maquiar os dados, mas que as mentiras não se manterão por muito tempo. E o povo saberá julgar de qual lado a verdade sempre esteve.

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