Quando uma tragédia ocorre, é por si só uma notícia que atrai a atenção da sociedade e, por isso, ganha espaço na imprensa. Outros fatos merecem aparecer nas páginas dos jornais justamente para evitar que novas tragédias aconteçam. Em geral, estas ações ocorrem de forma tão discreta que, muitas vezes, é necessário apurar o olhar e, mesmo sem expôr vítimas, dar o devido crédito aos envolvidos e divulgar o serviço prestado. É o que a repórter Clarice Almeida fez numa reportagem especial sobre a Patrulha Maria da Penha.
A novidade é um sistema de cadastro que se utiliza do Google Maps, no qual a localização das mulheres atendidas pela Patrulha é rapidamente acessada pelas equipes. Os agentes realizam um acompanhamento regular nas residências das 217 mulheres hoje cadastradas. Elas sofreram agressões e a Justiça proibiu seus antigos companheiros de se aproximarem. Mas, infelizmente, em muitos casos, apenas a decisão judicial não basta para cessar as agressões psicológicas e físicas. São vários os registros em que os agressores continuam ameaçando-as, perseguindo-as e, em alguns casos, cometendo o feminicídio. O fato de haver uma patrulha conferindo se as medidas protetivas estão, realmente, protegendo as mulheres de todo o sofrimento que a violência causou a elas e, muitas vezes, às crianças é decisivo para um desfecho positivo da história.
Não é o mundo ideal. Neste, não seriam necessárias rondas da Patrulha Maria da Penha. A lei que recentemente completou 15 anos também seria dispensável. Seria o mundo ideal em que as mulheres não seriam espancadas cotidianamente, nem assassinadas diante dos filhos. A Patrulha Maria da Penha completa no próximo sábado, 28, dois anos de existência. Difícil estimar quantas tragédias ela evitou ou para quantas mulheres ela representou uma tábua de salvação para sair do ciclo da violência doméstica.
Sabemos que isso não é apenas uma questão de polícia. É preciso que essas mulheres tenham estabilidade emocional para reerguer suas vidas sem a dependência afetiva, que tenham renda própria para poder quebrar a dependência financeira, entre tantas outras coisas. Nada disso evoluirá se ela estiver com medo de que sua casa será invadida a qualquer momento pelo ex-companheiro agressivo. E, para isso, a Patrulha Maria da Penha tem se mostrado essencial.