É preocupante a quantidade de notícias sobre violência contra crianças. Várias aqui no nosso Estado. Mais assustador ainda é pensar que essa é uma parcela ínfima dos casos. A maioria não chega à mídia ou à polícia, em especial neste momento em que as crianças estão fora das escolas e, portanto, distantes de atentos professores que, em geral, são os primeiros a perceber algo errado.
Nem sempre os agressores são o pai e a mãe, mas normalmente sua responsabilidade é grande. Eles pecam por não perceber que algo gravíssimo está se passando dentro da sua casa, envolvendo pessoas nas quais confiam. Um tio, um amigo da família ou vizinho pode estar usando uma máscara de bondade e segurança. Não precisaria acontecer se, desde muito cedo, as pequenas vítimas tivessem claro em seu pensamento duas coisas: ninguém tem o direito de tocar seu corpo sem consentimento e que podem conversar com os pais sobre qualquer coisa.
Educação sexual ainda é um tabu para muitas famílias. Parece que, quando consta no currículo escolar, se deseja ensinar as crianças a praticar sexo ou antecipar a iniciação numa prática que, naturalmente, elas irão conhecer em algum momento da adolescência ou da fase adulta. Educação sexual não é isso e os pais que participam da vida escolar dos filhos sabem. Educação sexual ensina as crianças a respeitarem o seu corpo e o dos coleguinhas e lhes dá condições de reconhecer quando um adulto mal intencionado faz gestos ou toques impróprios. A criança tem de saber que é ela quem faz as regras sobre o seu corpo, que não precisa se deixar abraçar, beijar ou receber qualquer toque se não o deseja. Ela não precisa agradar ao outro quado isso implica em abuso.
Claro que existem casos em que pessoas de mentes doentias atacam até bebês sem condições de buscar por socorro. Mas, muitas vezes, a criança já tem idade para, se estivesse bem orientada, perceber que há algo errado e relatar aos pais ou responsáveis. Muitas são repetidas vezes abusadas e se calam, sem coragem de falar. Não encontram em casa a abertura necessária para falar o que estão sofrendo e sentindo. E quando os responsáveis descobrem, porque um crime bárbaro e chocante ocorreu, já não há muito que fazer por aquela criança. Fica traumatizada, quando sobrevive.
Por isso, além de chocar-se com essas histórias, oriente seu filho. Não apenas garanta que ele saiba o que fazer numa situação de risco. Quando uma criança não confia nos pais para falar sobre qualquer assunto sem ser repreendida por sua franqueza, ela se torna um alvo fácil.