A busca pelo corpo ideal, estimulada principalmente pela onda de influenciadores fitness, com vidas perfeitas e silhuetas milimetricamente esculpidas, esconde um problema cada vez mais grave: o terror nutricional, abordado nas páginas 6 e 7 desta edição. A ideia de que determinado alimento – ou grupo alimentar – é prejudicial, “inflamatório” ou que a retirada dele é sinônimo de saúde – mesmo que a pessoa em questão não tenha qualquer tipo de intolerância ou alergia, pode ser bastante prejudicial, sobretudo aos mais jovens.
A comparação de pessoas reais com subcelebridades catapultadas pelas plataformas digitais é um risco não apenas à saúde física, mas ao bem-estar mental. Tentar equiparar-se aos influenciadores que vivem e ganham dinheiro para cuidar da sua aparência, com procedimentos estéticos, exercícios físicos mais de uma vez ao dia e uma rotina alimentar que foge à realidade do brasileiro médio pode, sim, ser a receita para frustrações e sentimento de incapacidade.
Ao deparar-se com a rotina feliz daquela blogueira que levanta cedo, faz sua meditação, exercícios, momentos de leitura e um café da manhã de novela, é comum sentir culpa por não dar-se todos esses luxos travestidos de autocuidado. A exigência é ainda mais alta quando passamos ao próximo vídeo e aquele coach bem-sucedido fala sobre a dedicação extra que o levou ao sucesso financeiro, jogando para debaixo do tapete toda a sorte de uma vida de privilégios e networkings que o alçaram a tal posição. E assim, o brasileiro médio, que trabalha, estuda, cuida da casa e dos filhos; muitas vezes dependendo de transporte público e pagando alugueis caríssimos, sente-se cada vez mais incapaz de alcançar tal ideal de felicidade. A rolagem infinita das telas, para além de distanciar-nos da nossa própria realidade, alienando o cidadão em uma projeção de sonhos criada por permutas e publi-posts, reduz o tempo que teríamos para investir em nós mesmos. Essa prática, por mais relaxante que possa parecer ao nos distrair dos problemas diários de uma rotina comum, acaba amplificando o sentimento de que a nossa vida está atrasada ou não é boa o suficiente.