O negócio é resistência

Uma luta diária por dignidade! Você se consegue imaginar nesta postura? Não sendo uma mulher ou homem negro talvez não faça ideia do que isso quer dizer. Então folheie o Ibiá até a página 7 e leia a reportagem de Isadora Ferreira a respeito da 2ª Feira Preta, promovida pelo clube social Floresta Montenegrina. Mas é importante que compreenda sua peculiaridade, pois qualquer outro evento desta natureza que se ouça falar tem apenas a missão dos negócios, sendo ambientado com algum lazer aos convidados. Já a Feira Preta é mais um grito pelo respeito.

Tome como base a palavra da presidenta da entidade, Letícia Santos, para ser convencido a respeito do papel humano presente: “dinheiro e trabalho trazem qualidade de vida e para o povo preto isso é proteção”. Qual outro seguimento de nossa sociedade precisa pensar desta forma, muito além do conforto com aquisição de bens de consumo, férias e vida cotidiana. Os elementos que compõe a Feira Preta são alicerce de vida, mais especificamente argumento para mantê-la, para enfrentar preconceitos, exclusões e sentimentos discriminatórios disfarçados de opinião justa.

Quantas vezes a mulher e o homem negro foram menosprezados com uso de uma tese mentirosa que esquece os anos de exploração seguidos de abandono à própria sorte. Sua caracterização foi criada a partir da visão de brancos, com uma hipócrita ideia de superioridade que insiste em colar nos negros, unicamente, a missão de serviçais.

Pois chega a Feira Preta para provocar a cólera dos que carregam supostas opiniões, se dizendo não racistas. Isso porque o evento, nascido nas comunidades paulistanas, não traz nenhuma fraqueza, tampouco é pedinte. Ao contrário, expõe os potenciais de toda a gente negra; sua iniciativa, seu trabalho e os talentos. Características reais que não nasceram da exclusão, mas da certeza de pertencimento, especialmente por sempre terem sido fundamentais na construção de praticamente tudo que é Brasil.

Inclusive o palco não poderia outro, uma vez que também a Associação Cultural Beneficente Floresta Montenegrina nasceu na mesma pegada de resistência, através da preservação das verdadeiras raízes dos cidadãos negros. São 107 anos se valorizando e exigindo que sua gente seja respeitada em seus aspectos culturais, religiosos e individuais. A Feira Preta traz a leveza do sorriso, mas sem deixar de exaltar a Consciência Negra necessária durante o ano todo.

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