O ano de 2023 tem sido para contar a história dos 150 anos da emancipação política de Montenegro. O tema é recorrente, e será abordado pelas escolas no desfile da Pátria em Sete de Setembro, devendo ser visto também na Semana Farroupilha. Mas, para que as homenagens sejam justas, todas as pessoas que fazem parte da construção desta comunidade, desde a Freguesia de São João do Monte Negro, devem ter sua memória reverenciada. É isso que a ABC Floresta Montenegrina persegue ao realizar o documentário a respeito dos seus 107 anos de existência.
O clube social negro, que inclusive está entre as referências do segmento no Rio Grande do Sul, tem alicerces na valorização do folclore, da arte, da gastronomia, e tantos outros aspectos da cultura dos povos formadores deste grupo fundamental. Mas é importante salientar que a colheita de relatos que está sendo realizada tem ainda outra missão no que tange criar um arquivo a respeito do legado das mulheres e homens, que é o resgate da presença dos escravizados.
Talvez para alguns, varrer este episódio para baixo do tapete do tempo fosse mais cômodo. Mas a Sociedade Floresta não deixará que esqueçamos que sim, o Vale do Caí teve pessoas aprisionadas e torturadas para realizar trabalho braçal nestas terras prosperas. E este trabalho foi decisivo na concretização econômica desta região, colocando-a no cerne do desenvolvimento do Rio Grande do Sul.
Faça-se justiça à Festa São João do Montenegro e ao espetáculo “De Ibiá a Montenegro: 150 anos de história”, que fizeram referência à presença dos negros. O que o documentário propõe é registrar definitivamente este capítulo dos 150 anos, e a partir do ponto de vista de sua gente. Este legado poderá ser revisitado através das lembranças guardadas na película; tanto da vida no clube social e suas manifestações, quando da vida do povo negro, através dos relatos perpetuados daqueles que viveram na pele a dor, depois substituída pela satisfação em reencontrar sua identidade como cidadão de Montenegro.
