Não há como ficar indiferente quando um crime é cometido contra uma criança ou adolescente. Especialmente os pequenos são frágeis, inocentes e não tem nenhuma capacidade de se defender, sobretudo se o ataque for físico. A realidade é chocante, ao percebermos que estes estão exatamente no centro do turbilhão de desilusões e dificuldades que a vida contemporânea inflige aos adultos. Sendo os elos fracos da convivência, acabam como alvo desta frustração.
É recorrente o pensamento a respeito de como uma pessoa pode ser tão cruel com um ser mais fraco; ao qual devemos responder que é justamente essa fragilidade que motiva a crueldade. O adulto se imagina com um direito sobre a criança, que deve ser submissa diante deste falso poder. Em relação à vida de um menor, o sujeito tem apenas responsabilidades, de zelar por segurança, saúde e Educação. Fora isso, não tem em sua propriedade um objeto.
Mas a violência infantil tem outros aspectos que sempre devem ser evidenciados, como a responsabilidade de todo o conjunto da sociedade. Destes, apenas dois órgãos têm atenção exclusiva aos menores, que é o Conselho Tutelar e a Promotoria da Infância; além da Vara da Infância e Juventude, mas que recebe o caso quando já se configurou em processo criminal.
Nenhum deles é polícia! Mas ao menos o Conselho é aquele que consegue chegar mais próximo dos lares com sinal de abuso. Uma atuação que não acontece por telepática, sendo dependente da voz do povo. Apenas se todos se preocuparem com as crianças é que teremos uma rede de proteção de fato efetiva. A denúncia é fundamental, e não representa intromissão na vida privada, pois as quatro paredes não devem ser garantia de impunidade.
Outros setores da estrutura social também devem ampliar sua atenção as crianças como revela a reportagem da jornalista Clarice Almeida. Das crianças retiradas de casa e abrigas no Menino Jesus de Praga, muitos não tinham acesso prévio à rede socioassistencial. Podemos ir mais longe, e considerar quantas deixaram a escola – que é um elemento importante em sua formação – por total desinteresse dos pais em sua formação intelectual e humana. A criança não deve ser ignorada, tratada como ‘bobinha’, sob risco de cumplicidade no crime do qual é vítima.