Em 1835, os gaúchos estavam indignados com o governo central. O Brasil, como país, tinha apenas 13 anos, o imperador havia retornado a Portugal e seu filho, Dom Pedro II, era apenas uma criança. O governo estava nas mãos de regentes e eles pouca ou nenhuma importância davam à província do Sul, que tantas vezes defendeu o território brasileiro das tentativas de invasão pelos castelhamos.
Os altos impostos sobre o charque e a importação do produto para controlar os preços fizeram com que os ricos donos de terras se revoltassem e pegassem em armas. Uma república foi criada e o que havia nascido como uma espécie de grito de socorro assumiu a condição de movimento separatista. A luta durou dez anos e, embora o governo central tenha saído vitorioso, é essa história de heroísmo e coragem que todos lembramos no dia 20 de setembro.
Este ano, os festejos serão bem diferentes, sem desfiles, fandangos e churrascos entre amigos. A pandemia do novo coronavírus impede esses “ajuntamentos”. Os cavalos ficarão no pasto, as pilchas e os vestidos de prenda nos guarda-roupas. A carne no espeto, só para as famílias e, ainda assim, com pouca gente. É uma pena, mas existem outras formas de comemorar e honrar nossos vultos históricos.
Assim como os farrapos de 1835, todos nós estamos vivendo uma guerra. Ela não é contra os impostos – embora essa seja uma excelente pauta, ainda hoje. Nossa luta é pela sobrevivência diante de um inimigo ainda mais mortal dos que as tropas do Império no século XIX. O coronavírus exige de todos um esforço enorme e a renúncia a comportamentos e atitudes que, para muitos, eram a própria noção de felicidade. Nos últimos seis meses, a maioria compreendeu que, diferente da Revolução Farroupilha, onde as vítimas eram os soldados, na guerra contra a Covid-19, todos estão no campo de batalha e podem morrer.
Dizem que o pior já passou e é justo acreditar nisso, mas não podemos nos descuidar. Que cada um consiga aproveitar as lições de “valor e constância” deixadas pelo nosso hino para vencermos essa luta. Assim, ano que vem, poderemos novamente desfilar nosso orgulho de sermos gaúchos, sem medo e com muita alegria.