A boa saúde no meio de sete irmãos fez com que ele logo fosse ignorado pelos pais. Aos 12 anos, ignorou as leis em busca de atenção e começou a furtar lojas da comunidade. Num misto de ignorância sobre a origem de suas atitudes e revolta, os pais o expulsaram de casa. Nas ruas, aprendeu que seria facilmente ignorado em prol de um cão com olhos de pedinte como os dele. Achou que sua sorte mudaria quando foi colocado num abrigo e, logo depois, numa escola. Vã esperança; também fora, nos dois lugares, ignorado.
Aos 17 anos, sua ignorância foi ignorada por um contratante e ele arrumou emprego ilegal como servente de pedreiro. Na obra, ignorava seu mestre e observava com desejo uma mulher que morava ali perto. Num dia, ignorou o sol que ainda estava alto e a arrastou para a obra, onde ninguém mais estava no momento. Ignorando a resistência dela, teve seu prazer.
Os gritos da mulher foram ignorados, com ele os abafando com a mão sobre a boca da sua vítima. Ignorando as mordidas dela em seus dedos, sentiu seu prazer aumentar com a dor. As lágrimas de sua vítima foram ignoradas enquanto ele finalmente sentia-se um homem completo. Depois do seu momento de alegria, ignorou a súplica da mulher e a atingiu com um tijolo antes de fugir da obra.
Caminhou ignorando um destino e o tempo. Após amanhecer numa calçada do Centro, viu sua foto estampada na capa de um jornal na banca. Ignorava o que as letras garrafais diziam, mas sabia que estava em perigo: as pessoas apontavam para ele após verem o jornal.
Correu ignorando quem aparecia na sua frente. Perdeu os chinelos, ignorou os cortes nos pés e seguiu na sua corrida sem rumo até ver uma viatura parar na sua frente. Um policial saltou e o mandou parar, mas ele ignorou a ordem e fugiu. A dor dilacerante de uma bala atravessando sua coxa foi ignorada enquanto ele seguia correndo.
A placa de “beco sem saída” foi ignorada durante a perseguição, que terminaria naquela viela, entre dois grandes prédios. Vendo apenas um muro na sua frente, ignorou sua humanidade para abraçar a animalidade ao tentar escalar a parede de concreto e ferro. Assim como ignorou a dor das suas unhas sendo arrancadas enquanto tentava subir o muro, ignorou o som de disparos ecoando entre os prédios. As balas ignoraram sua carne para penetrarem no muro após furarem seu corpo. No necrotério, foi novamente ignorado ao ser classificado como indigente por não saberem seu nome.