Frio e esperança

A madrugada fria do último sábado, 15, foi ainda mais gelada para os que amanheceram na frente do Parque Centenário na esperança de conseguir a dose complementar do imunizante CoronaVac, que está com aplicação atrasada. O mesmo já tinha ocorrido duas semanas atrás quando chegaram doses à cidade. A diferença esteve na temperatura, abaixo dos 10°C mesmo com dia claro, já que o Sol foi esquentar após às 11h. Não é certo. Não é justo. Não é digno com a população. E a administração municipal sabe disso. Tanto que, as doses que sobraram para ser aplicadas no domingo, tiveram outro procedimento de distribuição, visando que ninguém passasse a madrugada guardando lugar em fila.

É verdade que a parcela de responsabilidade municipal sobre a lenta vacinação brasileira é mínima e que a triste cena vista em Montenegro foi registrada em muitas cidades. A crise é de nível federal. Demoramos a comprar vacina, ficamos dependentes de algumas poucas e, ainda pior, não conseguimos garantir a chegada dos insumos. Para piorar, o Ministério da Saúde deu orientações erradas e flutuantes. Avisou que não era necessário reservar a segunda dose, porque novas remessas chegariam. Não chegaram. Para piorar a situação, tanto o Instituto Butantan quanto a Fiocruz – que produzem a CoronaVac e a Astrazeneca respectivamente – informaram falta de insumo para seguir oferecendo doses. Diante de tudo isso, é compreensível que quando chegam doses, a população as busque com ansiedade e atropelo. Motivo pelo qual a administração municipal precisa tomar medidas extras de organização.

Se olharmos para o mundo, veremos bons e maus exemplos no processo de imunização. Há países muito à frente do Brasil e outros atrás. Mas cada nação terá de avaliar as suas falhas. Fato é que, com tristeza, observamos parte do mundo voltando à normalidade, com a roda da economia já girando, o turismo recomeçando, eventos sendo liberados e as máscaras guardadas enquanto, nós, caminhamos para tudo isso em ritmo exageradamente lento. Nada disso pode servir de desculpa para que a população deixe de cumprir a sua obrigação: vacinar-se assim que possível e cuidar-se. Mas, além disso, temos de manter vigilância sobre tudo de errado – das madrugadas de filas à falta de vacina – o que cerca este processo. O brasileiro tem direito de ser vacinado, de forma breve, ordeira e digna. E deve exigir isso.

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