Os mais experientes devem se lembrar como no passado estudar ou oferecer estudo aos filhos era tarefa difícil. Muito em função da dificuldade em oferecer transporte a crianças e adolescentes. Não havia linha de ônibus disponíveis nem escolas próximas das localidades. Formar um filho, por esta e outras dificuldades, era a maior realização das famílias. Pois a sensação de muitas famílias com filhos cursando graduação, hoje, é a de que regredimos a esse tempo mais uma vez.
É muito difícil atualmente cursar faculdade em Montenegro ou em outro município morando na Cidade das Artes. A razão é o transporte. Com a gasolina no preço atual, ir à faculdade de carro todo dia é impossível para grande parte dos estudantes, mesmo os que têm carro em casa, realidade de alguns, apenas. E ir de ônibus tem se tornado impossível simplesmente por não haver linha. Ao longo dos últimos anos as rotas já vinham sendo reduzidas pela empresa que oferece o serviço e, na pandemia – quando o ensino remoto foi a realidade – elas foram extintas. Só que desde o início de março, quando as universidades retornaram às aulas presenciais, os estudantes enfrentam muita dificuldade para chegar nas universidades localizadas em Canoas, São Leopoldo e Novo Hamburgo. E os que vêm de outras cidades para estudar no campus montenegrino da Uergs, também enfrentam o corte de ônibus. Sem a linha que seguia para Porto Alegre no horário de saída, muitos estão tendo de dormir em Montenegro para conseguir estudar ou optando por abandonar os cursos.
Mais uma vez, a causa é a situação financeira difícil e a falta de passageiros, tudo agravado pela crise da pandemia de Covid-19. A atual alta no preço dos combustíveis, afetada pela guerra na Ucrânia, piora a situação. Razões à parte, os estudantes têm o direito de ir às universidades. E o poder público terá de intervir, seja pressionando a empresa que tem concessão pública para oferecer o serviço, mediando a solução ou oferecendo algum tipo de alternativa. Não podemos retornar ao tempo dos avós destes universitários, em que o estudo era privilégio também por não se ter transporte. Seria triste demais para a sociedade e para as autoridades.