Estamos cruzando o período de nossa história no qual devemos perguntar com muita seriedade e responder de forma responsável, como a cidade deve ser planejada. Partimos do fato que nunca foi pensada, com um desenvolvimento e seu consequente crescimento acontecendo de forma descontrolada, sem considerar as irregularidades das ocupações. Foi criada uma coexistência sensível, um tanto quanto arriscada, na qual se conta muito com a sorte e com a suposta colaboração da natureza.
Certamente voltamos aqui ao tema das enchentes, fenômeno que recebe perspectivas de retornar cada vez mais catastrófico; e revisitamos suas variáveis de motivos e danos. As pessoas que cruzaram a rua central de Montenegro no sábado, caminhado justamente ao encontro do Rio Caí, profetizam que o terror deve voltar. Na verdade, não é necessário ser um profeta para saber que teremos novos episódios de inundações e que não se deve esperá-los para avaliar o nível de destruição.
Muito além disso, os cidadãos que protestaram deixaram o recado sobre o medo e a dor, que não passaram, que estão muito presentes sob qualquer céu plúmbeo que se arma a partir do horizonte. Eles precisam mais do que o desassoreamento dos cursos d’água, que neste momento serve apenas para limpar o leito e lhe devolver o calado anterior as enchentes de novembro e maio.
A solução que cobram é traduzida em planejamento, com projetos entre bombas de combate a enchente, diques e até realocar de residência as famílias ribeirinhas. Algo precisa ser feito, não para exterminar, pois é impossível; mas para mitigar os efeitos, especialmente na vida do cidadão. Seja como for, precisa ser uma solução para longo prazo, pensando na cidade para a segurança e o conforto das pessoas.
Nesta lista de providências deve entrar a estrada de subida do Morro São João Batista, ponto turístico e área de preservação de grande interesse. A via nunca foi considera desta forma, recebendo manutenções paliativas, sem planejamento. O resultado é a vergonhosa possibilidade de perdermos o posto de município-sede de um radar que, justamente, permitirá o enfrentamento às enchentes.
Ainda que esteja levado a Porto Alegre, seu benefício seguirá sendo o mesmo aos montenegrinos. Mas, além da perda de protagonismo, talvez até de outros investimentos, recebemos o recado claro da perigosa precariedade.