Escute o outro

Quem caminha pelas ruas centrais de Montenegro já deve ter observado alguns prédios pichados com a expressão “Olhe para o outro”. Apesar de o ato ser considerado vandalismo e crime ambiental, a mensagem deixada faz pensar. As eleições que chegam ao fim neste domingo, com a definição de quem será o governador do Rio Grande do Sul e o futuro presidente do Brasil, deixaram clara uma enorme divisão na sociedade brasileira, principalmente no âmbito nacional.
Por isso, passada essa guerra eleitoral, é necessário olhar para o outro. Mais do que isso, é indispensável ouvir o outro e refletir. É necessário ouvir argumentos contrários aos seus e reconhecer sua validade, mesmo não concordando com eles. É fundamental realizar esse exercício de civilidade e vida em sociedade que foi quase que completamente esquecido durante as eleições em nome da defesa cega e descontrolada dos candidatos. É hora de voltarmos a ter diálogo.
Não podemos recorrer à violência, seja ela física ou verbal. Não podemos regredir. Temos que avançar na base do diálogo. Diálogo este que deve ser plural e com espaço para o contraditório, porque a repetição de apenas um ponto de vista não gera reflexão e, portanto, não abre espaço para avanços. Também é importante que esses diálogos ocorram olho no olho e não através das telas dos celulares ou computadores. Assim, sentiremos o que o outro quer dizer. Palavras ditas carregam a emoção que muitas vezes falta para aquelas escritas em fontes padronizadas. Precisamos voltar a ser humanos e sentir a presença do outro.
Independente de quem vença, o importante é que – desde que não incite ao ódio – nenhuma voz se cale e que todas tenham vez. É preciso abaixar os celulares e levantar os olhos das telas de computadores ou televisões para conversar com o outro. É necessário escutar o outro. É necessário sentir o outro. É necessário voltar a ser humano.

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