Você já deve ter ouvido que “hoje em dia não se tem nem o direito de morrer”. A frase provocativa, às vezes, vem acompanhada até de alguns risos. Mas quando a gente se depara com a realidade presente nessa afirmação, é como levar um soco de realidade. E esta realidade lhe é oferecida na edição de hoje, na matéria de Denis Machado. O cemitério de Montenegro enfrenta grandes problemas. Se, nas partes católica e evangélica elas também são percebidas com o pouco espaço disponível para realizar enterros de pessoas cujas famílias não têm local próprio, é no municipal e no público que a situação é ainda mais preocupante.
Sepulturas abandonadas, deterioradas e cuja administração do cemitério não sabe a quem pertencem. Só isto já bastaria para ser considerado um problema grave. Afinal, deveria existir um acompanhamento e registros confiáveis sobre cada enterro feito ali e, mesmo que em livros antigos, hoje deveria ser possível localizar onde estão os restos mortais de determinada pessoa e qual a família responsável por aquele terreno no campo santo. Mas não é o caso. E a explicação estaria nas “muitas mudanças” pelas quais o espaço passou. Um descontrole que não é aceitável. É difícil compreender, inclusive, como as próprias famílias permitam que se chegue nesse ponto de abandono.
A situação é ainda mais triste no cemitério público, local para onde vão aquelas pessoas que não têm espaço comprado em nenhum dos cemitérios nem dinheiro para comprar. Na área pública nada é cobrado, mas os restos mortais permanecem apenas três anos lá depositados. Depois a família precisa dar outra destinação ou o ossário será o destino. Mas, a administração reconheceu à reportagem a necessidade de, com autorização da família, abrir carneiras antes de completados os três anos e depositar outro corpo, de outra família, lá. Num momento naturalmente doloroso como é o da morte, não é aceitável que as famílias precisem passar por isso. O fato de não terem recursos para pagar não pode autorizar que lhes neguem dignidade. E os administradores do município – de hoje e de antigamente – devem se envergonhar da situação ter chegado neste ponto sem que a solução tenha sido encontrada.