Ser cidadão é cumprir deveres sociais, ter conduta coletiva ilibada e pagar seus impostos, e desta forma garantir seus direitos fundamentais. Quando os primeiros itens deste simplificado tripé são cumpridos e o terceiro, inteiramente de responsabilidade dos governos, é suprimido, a revolta se torna inevitável. Todo direito é imprescindível. Mas quando se fala na saúde das pessoas o tom sobe muito, o medo pelas consequências é multiplicado, e a urgência por solução deveria ser ampliada na mesma proporção. Hoje, milhões de brasileiros – especialmente da classe pobre – têm suprimido o direito de receber remédios para curar seu corpo. Inclusive alguns são básicos, são de baixa complexidade, ainda que demandem de investimento do cidadão.
É necessário apontar, primeiramente, que o problema não tem sido de gestão ou falta de recursos das prefeituras e estados. A responsabilidade é dos laboratórios, que não produzem quantidade suficiente para assistir aos usuários do SUS (Sistema Único de Saúde). E é inevitável colocar no cerne desta situação os interesses financeiros das empresas privadas. Uma variável que deve ser considerada é a chegada do Inverno. Como é de costume, a estação lota consultórios públicos e coloca brasileiros nas filas das farmácias comerciais, onde os preços são bem mais atrativos aos fabricantes. É difícil, quase impossível, ver uma crise de desabastecimento nas farmácias comerciais, que se multiplicam pelas cidades
Passado o pior momento da pandemia da Covid-19 (que ainda não terminou), a interação social criou um fenômeno de muitas pessoas adoecendo simultaneamente. Um filão que desperta a ganância nas empresas, ao ponto de deixarem 2.469 prefeituras do Brasil desabastecidas (dados da Confederação Nacional de Municípios).
E é neste exato momento que a tão badalada lei do livre mercado mostra sua face nefasta: vale o que mais traz lucro! Uma batalha de interesses travada entre gigantes, na qual o mais fraco é flagelado pelo desequilíbrio criado pela mão deste mercado, que muitos consideram invisível para justificar que corra sem regramento. Em especial ao se tratar sobre medicamentos, que são um oposto radical a produtos dispensáveis.
Os cidadãos esperam que o governo federal resolva de imediato, o que pode ser definido como “direito à saúde, à vida”. E neste caso é plausível uma postura mais severa, com intervenção no mercado como forma de garantir que este direito seja alcançado a todos os cidadãos.