Ao longo da história se acumulam exemplos de organizações que surgiram da força popular, refletindo suas necessidades prementes. Essas foram expoentes de organização, com resultados substanciais em favor do povo, muitas das vezes com foco em grupos sociais específicos. A Central Única das Favelas (Cufa) se enquadra neste exemplo de sucesso oriundo da força popular, e de retorno desta força às comunidades ainda excluídas dos processos sociais e políticos. A verdade é que hoje existem poucas organizações com a mesma abrangência da Cufa, tampouco que tenham construído tão grande importância na vida de pessoas humildes. Seus serviços se tornaram norteadores das ações de brasileiras e brasileiros, um porto seguro nos momentos cotidianos ou excepcionais. Mas especialmente é fundamental para as mulheres das favelas, sejam acompanhadas ou líderes soltárias de núcleo familiar. Essa postura da Central é alicerçada em conhecimento, pois a realidade prova que as mães ficam ao lado de seus filhos, assumem o lar, lutam pelo presente e futuro das crianças. Para Elas, a Cufa é muito mais do que assistência.
Para uma avaliação minuciosa, definimos que essa organização nem deve ser taxada dentro da categoria da assistência social. Sua energia está centrada em ser catalisadora de potenciais, apresentando-se como uma central na qual os membros da comunidade se encontram para organizar suas ações. A forma como trabalhar insere as pessoas em seu seio, lhes dá importância e instiga que tenham postura para decidir o que afeta o coletivo.
Faz com que os cidadãos sejam a própria Cufa. Mesmo quem lidera não surge como um mentor, um guia que detém toda a verdade. A Cufa é descentralizadora, multifacetada em seus pensamentos, plural em prioridades, ela é cooperativa em essência. Assim revela as potências que estão nas sombras que a cidade projeta sobre a periferia, quando imagina que afasta o problema, mas na verdade manda para longe a solução.
A Cufa soube fazer essa leitura de que as respostas estão nas pessoas que vivem nas favelas, sem necessidade de planos extravagantes vindos ‘do asfalto’. O que este cidadão quer é respeito, inclusão, oportunidade e o retorno substancial dos impostos que também paga a cada dia neste país. Feito isso, deixe que a Cufa organiza, então, talvez ainda, a cidade se surpreenderá com o sucesso da favela.