Comendo plástico

É quase impossível falar da Amazônia sem citar os constantes ataques à floresta. As queimadas para o plantio de pastagens e o corte indiscriminado de árvores para abastecer a indústria estão no centro dos debates, mas engana-se quem acredita que estes são os únicos grandes problemas. Um estudo realizado pela Universidade Federal do Pará (UFPA) apontou a presença de plástico dentro do corpo de 98% dos peixes que vivem nas nascentes, rios e riachos da região.

O trabalho foi realizado pelo grupo de pesquisa do Laboratório de Ecologia e Conservação (Labeco), ligado à universidade, e analisou 68 espécies aquáticas. Foram encontradas 383 diferentes partículas plásticas – 201 no trato gastrointestinal dos animais e 182 em brânquias ou guelras, órgão respiratório dos peixes. Além de ameaçar a vida dos animais, o plástico pode ser ingerido pelos seres humanos. Segundo outro estudo, publicado na revista Nature Communications em 2017, cerca de 39 mil toneladas de plástico são despejadas anualmente nas águas do Rio Amazonas.

Conforme os pesquisadores, as partículas plásticas são oriundas de fontes variadas, como roupas, tinta, pasta de dente e até mesmo pneus. Estima-se que entre 2% a 5% de todo o plástico produzido no mundo termine anualmente nas águas dos mares e dos rios. O problema, obviamente, não se restringe à Amazônia e provavelmente seja ainda mais grave nos rios que ficam próximos aos grandes centros urbanos.

Proteger as florestas é essencial para manter o ar respirável e preservar os ciclos das chuvas que sustentam a agricultura no continente. Porém, não é exagero dizer que tão importante quanto preservar as árvores é criar alternativas sustentáveis – economicamente viáveis, portanto – ao plástico. Se não podemos substituir seu uso nas embalagens, é preciso, pelo menos, criar mecanismos eficientes de reciclagem.

Infelizmente, a sustentabilidade do planeta, em meio à pandemia e graças a governos mais preocupados com a economia do que com a vida, vem perdendo espaço na agenda da sociedade. Por uma questão de sobrevivência, é preciso tratar as florestas e os mananciais com respeito e zelo. Sem paixões de viés político, mas com técnica, com base na Ciência, usando todo o conhecimento que a humanidade já acumulou para garantir o futuro.

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