Viver em comunidade pode ser difícil quando não se tem noções muito claras sobre direitos, deveres e respeito pelos outros. A toda hora estamos sujeitos a algum dissabor, provocado pelo vizinho barulhento, pelo cachorro da moradora da frente que faz cocô no nosso pátio, ou pelo volume da TV de quem reside nos fundos. Nestes tempos de pandemia, quando o risco de contágio aumenta nossas horas dentro de casa, o convívio pode se tornar uma espécie de tortura. Em apartamentos, então, é ainda pior.
Contudo, não se pode permitir que as reações a estes problemas evoluam para a violência. Semana passada, as câmeras de segurança de um condomínio no Jardim Paulista, zona oeste de São Paulo, flagraram um morador esguichando spray de pimenta sob a porta de um apartamento em reforma. Ele estava revoltado com o ruído provocado pelos operários. Sem medir as consequências, usou um produto perigoso para a saúde com o objetivo de parar o trabalho.
Os pedreiros, que estavam ali trabalhando, foram intoxicados. Entre os sintomas, ardência nos olhos e muita falta de ar, que lavaram dias para desaparecer. Quando o caso veio a público, depois que o morador foi flagrado pelas câmeras de segurança, descobriu-se que aquele havia sido o segundo atentado. Na primeira incursão, ele passou cola na porta pelo lado de fora para deixar os funcionários presos, mas não deu certo. A equipe deixou o imóvel e como o agressor ficou solto, agora temem um novo ataque.
Em sua defesa, o agressor disse não se importar que a reforma continue, porém, das 10h às 17h e não das 9h às 18h, como vinha ocorrendo, dentro das regras do condomínio, inclusive. Ainda que tivesse razão em suas queixas, de forma alguma poderia ter reagido com tamanha virulência. Um dos operários chegou a vomitar sangue e todos precisaram de atendimento médico.
Diante de tudo isso, autor do ataque deveria ter ficado preso, pelo menos por alguns dias, para aprender que ele tem direitos, é verdade, mas também possui deveres. E o principal deles é respeitar o trabalho dos outros.