Estamos nos despontar de uma nova era, voltada à automação a partir do mundo cibernético, da inteligência artificial, do ser humano como elemento participativo com menos esforço de decisão. Estamos iniciando a corrida espacial com possibilidades reais de pouso humano em outro planeta, e a medicina avança com a mesma energia. Todavia, o cidadão comum no seu dia a dia ainda é capaz de tomar péssimas decisões. Na verdade, decisões ultrapassadas nos anos 80 por terem como consequência dor e morte, tal como estando embriagado assumir o volante de um veículo.
Não parece real quando temos conhecimento a respeito dos repetidos casos de embriaguez ao volante, e neste caso referente apenas a realidade de nossa região, o Vale do Caí. Abismados, nos perguntamos como alguém ainda tem coragem, misturada com displicência arrogante, para assumir este risco. Depois somos nos tomados pelo medo de um dia no trânsito nos tornarmos a vítima de um irresponsável ao volante, tememos por filhos, irmãos, nossos pais. Que alguém seja ceifado do convívio do lar pelo condutor que não viu problema em beber e dirigir. Um contexto no qual é retórico pedir mais polícia nas ruas, mais punição aos infratores, mais rigor com a retirada definitiva do direito de dirigir. Não há atenuante na legislação brasileira no que se refere a penalizar, inclusive com cadeia, quem provoca acidente de trânsito. Talvez o rigor deva ser ampliado aos flagrados nas “blitz” dirigindo após ingestão de bebida alcoólica, mesmo sem ter se envolvido em ocorrência policial. Talvez perdendo a carteia de forma irreversível. Sempre há espaço para endurecer a punição.
Mas será que é apenas isso? Apenas a eficiência da cadeia pode mudar o pensamento de quem, na verdade, já sabe que assumiu um risco de matar e de morrer? Pois parece evidente que é neste ponto que reside o fator determinante ao cenário de guerra em nosso trânsito: a desvalorização da vida, sobretudo dos outros. São dias em que as pessoas pensam em comprar armas, aplaudem com prazer a morte de um criminoso e não se compadecem com a fome de um morador de rua. Para beber e dirigir então é um passo a mais em direção a degradação humana.