Foi recebida com alguma surpresa a nota divulgada pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM) que pede a troca do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. Afirmando ser uma troca “necessária, urgente e inevitável”, o texto diz que o general não tem condições de conduzir o Brasil na luta contra o coronavírus. A surpresa, porém, infelizmente, não está alicerçada num bom trabalho da pasta, mas sim, no momento em que ocorre. Não parece que a condução de Pazuello tenha mudado nos últimos dias. Portanto, o que mudou foi a avaliação. Se este pedido é justo, ele veio com atraso.
Apesar de se tratar de uma entidade que congrega os municípios de todo o País, não é injustificável que opiniões divergentes ocorram, seja por alianças político-partidárias, seja por entendimentos diferentes. Em muitos municípios houve troca de prefeitos no início de janeiro e, talvez, isso explique a mudança de postura. E isto é preocupante, afinal, a avaliação sobre a saúde pública não deveria estar vinculada a legendas políticas.
A condução da Saúde no Brasil em meio à pandemia teve problemas desde o princípio. Logo de início, percebeu-se um descompasso de pensamento em Luiz Henrique Mandetta, primeiro ministro da Saúde do governo Bolsonaro e o presidente. Após alfinetadas e ameaças claras de demissão, o médico deixou o cargo em 16 de abril. Entrou outro médico, Nelson Teich, que durou menos de um mês no posto. Aí o Brasil – que na época vivia intenso aumento de casos e óbitos – ficou sem ministro da Saúde. Foi em 2 de junho que o militar Eduardo Pazuello assumiu a pasta.
O “entra e sai” de comandante já mostra que o Brasil errou e muito na condução da pandemia. E os problemas apareceram, de falta de oxigênio até atraso na compra de seringas. Agora, o que os prefeitos sentem é a falta de ritmo na chegada dos imunizantes. Há cidades já interrompendo a vacinação por falta de doses. Mas esta nem é a reclamação mais grave. Afinal, muitos outros países também enfrentam essa dificuldade. E olha que eles não se apegaram em questões ideológicas e negociaram a aquisição de doses com muito mais fornecedores que o Brasil. O fato é que existe um tempo necessário para a produção e logística e esse parece mais longo que a nossa vontade e necessidade.
Mas, se a vacina é algo que não depende de vontade, o diálogo sim, precisa apenas disso. E a CNN afirma que pedidos de agenda e mesmo de informação são ignorados. Isto também não surpreende. A imprensa luta para obter informações já que elas não são facilitadas como devem. Se seria ou não negativo ao País mais uma troca de ministro é algo que precisa ser questionado. Afinal, a colocação de médicos no posto não fez diferença, já que estes não foram ouvidos. Mas, sem dúvida, é preciso pressionar para que a engrenagem do Ministério funcione e são as prefeituras que sentem as falhas iniciadas lá no Planalto. Assim, mesmo que tardiamente, além do direito, elas têm o dever de cobrar medidas mais justas à saúde dos brasileiros.