O fenômeno que se abateu sobre o Rio Grande do Sul – entre abril e maio deste ano – foi acertadamente nomeado de catástrofe climática. Contudo, não perca de vista a realidade, de que estas são as consequências da desastrosa intervenção humana no Meio Ambiente, onde cada um de nós tem sua parcela de contribuição. Saturada, a Natureza não suporta as agressões e reage como pode. Os rios confinados, assoreados e poluídos, são sobrecarregados pelo excesso de chuvas, e procuram seus espaços originais. Onde não encontram, rasgam um novo leito alternativo para extravasar sua potência. Passado o momento trágico, resta – paralelo a reconstrução – pensar em formas de evitar que isso se repita. Mas será que os olhares estão voltados na direção mais adequada?
Toda boa intenção que surge agora precisa fazer a leitura correta do recado deixado pelo Rio Caí na nossa região, gravado com intensidade no que chamamos de “rastro da destruição”. Ali, nos caminhos da correnteza, estão também as direções para as quais devem rumar os projetos de enfrentamento às enchentes, em consonâncias com as prioridades das comunidades e necessidades do Meio Ambiente.
Haverá casos de pequenas vilas ribeirinhas, ou uma e outra casa, que deverão ser realocadas. Todavia, mover de lugar cidades inteiras parece pouco provável, sendo impossibilitado diante do custo que representa. Então, a alternativa será a reconquista da convivência harmoniosa com o gigante d’água, suas várzeas e afluentes. Por falar nisso, gastar milhões com muros de contenção será desperdício sem a manutenção das ferramentas naturais de proteção.
Viajando ao longo do Caí, se percebe a urgência de recompor quilômetros de vegetação ciliar. Aquilo que era mata nativa, ou que fosse plantada pelo homem, foi devastada, deixando peladas as barrancas, que agora são erodidas pelas chuvas. De nada adiantará dragar constantemente o fundo do rio se suas laterais estão desabando lentamente. Outro sinal são os ‘lagos’ deixados para trás quando as águas voltaram para seu leito, sendo este um claro sinal do limite que pertence à Natureza.
Qualquer ação a ser realizada não deverá ser de enfrentamento ao Rio Caí, mas de recomposição e reconciliação com este importante elemento ambiental. As ações pontuais na região desta bacia hidrográfica devem considerar nossos limites e a capacidade do Meio Ambiente de buscar aquilo que lhe pertence.