A morte de um jornal

Essa semana o jornalismo do Rio Grande do Sul sofreu um duro golpe em sua trajetória. O anúncio do encerramento das atividades do Diário Popular, de Pelotas, é uma notícia que atinge um pouco cada veículo de comunicação e, porque não dizer, cada gaúcho. Um dos jornais mais antigos do País ainda em circulação, o DP é parte da história do RS e deixa um vazio de informação extremamente preocupante na região Sul do Estado. Não podemos deixar de nos solidarizar com nossos colegas pelotenses. Foram 133 anos, se tornando o terceiro jornal mais antigo do Brasil ainda em atividade até essa quarta-feira, 12, quando publicou-se a última linha do diário. A morte de um jornal é também a interrupção de histórias que vinham sendo contadas e agora se rompem abruptamente. Logo no baixar das águas da maior enchente já registrada no Estado, o DP deixa de circular e, com ele, a região Sul toda fica sem sua voz. Agora que os veículos nacionais deixaram de abrir tanto espaço às demandas nossas, é o jornalismo local que cobra a reconstrução, fiscaliza as denúncias e buscas respostas às causas desta cheia e suas consequências. Toda uma região do Estado agora fica sem esse braço especializado de informação.

O DP fecha suas portas também em meio à cobertura da CPI do Pronto Socorro de Pelotas, sendo mais um exemplo de como o jornalismo profissional carrega consigo o papel de fiscalizar e dar luz aos problemas que atingem a população no seu entorno. Com isso, cresce o deserto de notícias no Sul. Este vácuo informativo abre espaço para desinformação, manipulação de frentes extremistas e discursos enviesados por todo tipo de interesse econômico, político e fundamentalista sem o filtro do jornalismo profissional. Talvez nós, gaúchos, não tenhamos dimensão disso, por estarmos acostumados a ter um jornalismo local de qualidade. Mas o que se produz aqui é estudado, inclusive, em universidades de outros estados do País. O fechamento desta referência, – além do Jornal Arauto, de Vera Cruz, também recentemente anunciado -, põe em cheque parte da escola de jornalismo do Sul brasileiro, para além de um veículo informativo ou de uma história construída ao longo de um século.

A morte de um jornal vulnerabiliza toda uma comunidade do ponto de vista informativo. A morte de um jornal local mata também um pouco da história e da identidade daquela região, pois é este canal que dará voz e vez às mazelas que os afligem e às bonanças que nos orgulham. O abraço e o apoio ao jornalismo local, é também uma forma de mantermo-nos vivos enquanto sociedade, para que o deserto de notícias não se amplie no Rio Grande do Sul.

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