A fé ensina

Poucas são as celebrações que conseguem unir duas crenças como a do dia 2 de Fevereiro. Nossa Senhora dos Navegantes e Iemanjá são homenageadas na mesma data, de forma muito harmoniosa e singela. Para muitos, ambas são a representação da mesma entidade religiosa, apenas cultuada de forma diferente em cada religião. Navegantes para os católicos, Iemanjá às religiões de matriz africana. Nos festejos de ambas as religiões é comum encontrar pessoas que não seguem nenhuma dessas religiões, mas lá estão para levar uma rosa à Rainha das Águas e pedir por sua proteção.
O Ibiá pode noticiar a ida ao Litoral no final de semana passado de filhos de Iemanjá, que levaram oferendas e cultuaram a Rainha do Mar de fronte ao quebrar das ondas. E na edição de hoje destacamos as procissões que homenagearam Nossa Senhora dos navegantes na área urbana e no interior do município. Que privilégio poder noticiar estas duas manifestações de fé.
Esse festejo duplo, em paz, no mesmo dia, não é privilégio apenas pelos devotos Montenegrinos. Em Porto Alegre a procissão à Navegantes é grandiosa, levando algumas centenas de pessoas no percurso. Também na Capital, no sábado, quem passou pelo Mercado Público pôde receber passe de Iemanjá, oferecida por umbandistas. Cada um respeitando a fé do outro, seus costumes e tradições. Essa festa religiosa e popular diz muito da formação de nosso povo. De um lado a fé trazida pelos açorianos, que tanta ligação têm com a nossa colonização. De outro, a religiosidade africana, que em meio a tanta dor não se perdeu nas senzalas, ao contrário, espalhou-se demonstrando a força da ligação do povo com os seus orixás.
Se conseguíssemos levar este ensinamento para todas as áreas de nossas vidas e praticá-lo a cada dia do ano, grande parte de nossos problemas teria fim. E isso não depende deste ou daquele credo. Aliás, os sem religião – ateus – podem respeitar os preceitos mais básicos, que são pregados pelos religiosos, mas são a base para um bom relacionamento em sociedade também dos que em nada crêem. Nossa Senhora dos Navegantes e Iemanjá, além de nos brindar com suas graças, também nos ensinam muito. Tomara que nós consigamos aprender com elas a conviver de forma harmoniosa, independente das nossas preferências.

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