Um dos maiores problemas do ser humano e, sem aqui levar para o lado do preconceito, mas com algum pé na realidade no que diz respeito a nós, brasileiros, é o famigerado “jeitinho”. Esse “modus operandi”, aqui tão corriqueiramente utilizado, nos credencia como um povo extremamente criativo, capaz de se adaptar à realidade e suas eventuais adversidades, driblando situações dos tipos mais variados.
Ocorre, porém, que, para que cheguemos ao “produto final”, qual seja, para que obtenhamos aquilo que almejamos, determinadas ações praticadas quando para estas nos fazemos valer do “jeitinho”, acabam por representar inequívocos desvios, desrespeito às regras de conduta, normas, procedimentos administrativos e outros comandos preeestabelecidos.
Pior do que isso é refletir e ter de admitir a existência de uma linha extremamente tênue entre a transgressão e o crime. Sim, porque, embora muitas vezes possamos contar com a vista grossa e embaçada das demais pessoas que nos cerquem, a vigilância sobre nossas condutas há de ser permanente, de modo a evitarmos o embarque nas chamadas “canoas furadas”.
É bem verdade que há, sim, algumas regras, sejam estas estabelecidas por leis, portarias, ordens de serviço, estatutos, regimentos internos etc que, em seus artigos, parágrafos, incisos e alíneas denotam engessamento e inviabilidade a qualquer pretensão de agilização na resolução de algumas necessidades. E eu mesmo admito que já transgredi algumas dessas normas mais em desuso do nosso dia-a-dia. Mas também é preciso que eu reconheça ter tido a sorte de que nada de indesejável tivesse ocorrido nessas raras ocasiões, porque, houvesse eu tido experiência diversa da vivida, por certo teria me complicado e sido forçado a dar explicações.
Portanto, meus caros amigos leitores, não almejo com essa reflexão ser o falso moralista. Posar aqui como se eu fosse alguém que jamais burlou alguma regra ou comando seria cínico e representaria uma grande mentira. Não se trata disso, pois. Trata-se somente de propor um debate que cada um de nós, mesmo internamente, de maneira bem introspectiva mesmo, pode e deve fazer acerca dos limites existentes entre o certo e o errado, e do quanto podemos aprender a enxergar mais e melhor acerca de algumas ações que podem estar indo muitíssimo além de um simples e ingênuo “quebra galho”.
É verdadeiramente importante que saibamos identificar as diferenças gritantes que há entre a permissividade, a flexibilidade e a ilegalidade.
Dizem que os mais velhos normalmente são também os mais sábios. E, se pararmos para pensar sobre tal afirmação, talvez seja fácil compreender que esta decorra do fato de que a sabedoria que se adquire com maior experiência de vida guarda relação com uma adequada leitura da própria vida, liturgia na qual se tenha, por vezes até forçosamente conseguido fazer o balanço dos prós e contras, dos ganhos e prejuízos, dos prazeres e dissabores e dos orgulhos e vergonhas pelas quais já passamos.
Assim sendo queridos leitores, preservem-se. Não sejam chatos ao extremo nem tampouco “cri-cris”. Permitam-se flexibilizar onde houver necessidade da aplicabilidade do bom senso, especialmente quando a urgência da necessidade imperar. Mas estejam vigilantes e mantenham-se honestos e justos, sempre.