Aos finais de tarde, depois de uma jornada extenuante de trabalho, para me manter mais atualizado a respeito do que de importante ou polêmico, costumo ligar a TV nos canais de notícias.
A miséria e a fome de crianças maltratadas, as destruições advindas de inundações, terremotos, furacões, as milhares de mortes de inocentes vítimas dos conflitos armados pelas disputas irracionais por territórios ou ideologias que permitem que genocidas hajam livremente e, o que é ainda pior, sendo acobertados por interesses econômicos das nações mais poderosas do mundo, tudo isso é carga mais do que suficiente para, como se dizia no meu tempo de jovem, dar um “tilt “ na cabeça!
Mas então no noticiário eu assisto uma matéria jornalística sobre a performance de uma travesti, de nome Tertuliana Lustosa que, durante uma palestra que estava sendo ministrada na Universidade Federal do Maranhão, resolve fazer uma espécie de dança erótica de cima de uma mesa, mostrando as suas partes íntimas para a plateia do espaço da conferência, sob a alegação de que, por intermédio daquela atitude ela se propunha a “ensinar com o c*”.
Deu sim um baita “tilt” na minha cabeça! Eu fiquei alguns minutos olhando aquelas cenas e acompanhando a habilidade com a qual eram manifestadas as naturais repulsas nos comentários dos jornalistas.
E eu, absolutamente incrédulo ali, em frente à TV tentando compreender o que pode passar pela cabeça de um ser humano que se proponha a cometer tamanho absurdo.
Evidente que a atitude completamente desmedida da tal Lustosa gerou um repúdio enorme seguido de manifestações contrárias à sua absurda performance, inclusive a ponto de serem exigidos a abertura de expedientes administrativos e criminais a respeito.
A agenda LGBT é complexa. No Brasil, e via de regra no resto do mundo, essa é ainda uma bandeira de luta por reconhecimento e respeito às pessoas que se sentem mais felizes e realizadas, mais plenas e satisfeitas com as suas próprias escolhas. E isso todos nós temos de aceitar, defender, compreender e respeitar, sem torcermos os nossos narizes ou apontarmos os nossos dedos contra quem quer que seja que, por suas questões, se sinta melhor assim ou assado.
Entretanto, como vivemos e pretendemos continuar convivendo em sociedade, por óbvio que há outros regramentos de abrangência coletiva que devemos todos também respeitar.
E não há qualquer justificativa aceitável para uma travesti, que as matérias jornalísticas classificam como sendo uma historiadora, achar que se ela expuser sobre a mesa de uma palestra de faculdade federal o seu c*, isso irá ajudar de alguma forma a nossa sociedade a se tornar mais consciente e menos preconceituosa e homofóbica.
O Brasil tem altíssimos índices de feminicídios praticados por homens contra mulheres, assim como é assustadora e triste a incidência de crimes praticados por questões de preconceitos relacionadas a gênero, raça, cor, religião e outras.
Há sucessivas campanhas educativas com o intuito de esclarecer e nos auxiliar a compreendermos e aceitarmos outras possibilidades.
Mostrar o seu c* em palestra não está no rol do que se possa classificar como construtivo ou educativo.
É mais um episódio ridículo de tentativa de lacração, tiro de bazuca no próprio pé, absoluta insensatez.