Tive um colega de apelido Serra. Era totalmente desprovido de pelos na cabeça, era careca. Nós o chamávamos de Serra Pelada, em alusão ao famoso garimpo localizado no Pará, onde brotava ouro do chão. Era tanto ouro na Serra Pelada que uma montanha foi sendo destruída, ficando só a terra árida e hoje um lago de alguns metros de profundidade, poluído de Mercúrio. Calcula-se que mais de 45 toneladas de ouro foram retiradas do local. Sobrou uma montanha totalmente degradada. Uma Serra pelada, por isso meu colega era o Serra.
Serra era o pessimismo em pessoa. Nada nunca estava bom pra ele. Em tudo ele achava um lado negativo e uma forma de achar que iria dar errado. Parecia o Mutlhey ou o Hardy dos desenhos em quadrinhos, sempre resmungando e reclamando, dizendo que não ia dar certo.
Murphy era otimista perto do Serra.
Às vezes tínhamos ótimas notícias na firma. Um bom valor de participação nos lucros e resultados por exemplo. Eu chegava e falava para ele:
– Tu viu Serra, vamos receber dois salários de PLR, dois salários!!! Eu todo faceiro com a noticia, e ele:
– Mas a Braskem vai dar 2,5 salários… Não gostei…
Quer dizer, ele sempre via o lado negativo, nada era positivo. Ele nunca estava feliz.
Como as pessoas hoje em dia.
Não generalizando, mas parece que o povo vive infeliz. Não sei se isso sempre foi assim e, devido às redes sociais, acabamos sabendo a opinião de muita gente ou realmente os tempos atuais estão deixando o ser humano deprimido e sem alegria. Não sei.
A vida moderna talvez tenha afastado as pessoas. E esta falta de convivência trouxe um sentimento de vazio onde nada mais traz alegria ou satisfação. A não ser no TikTok ou no Kwai.
Fato é que vivemos sem alegria. Tudo é motivo de reclamação. Nada mais satisfaz.
Por mais de trinta anos, clamamos por algo na travessia entre o Bairro Santo Antônio e o Centro da cidade. Foram manifestações, paralisações, abaixo assinados, projetos mal feitos e politicagem. Enquanto isso, acidentes e mortes. Finalmente conseguimos ser vistos pelo Estado e fazer uma intervenção, que, se não termina, diminui muito os problemas da travessia. Mas alguns continuam reclamando. Claro que não está perfeito, mas é preciso dar um passo de cada vez. Agora precisamos evoluir para dar mais segurança aos pedestres, porém, continuar reclamando e vendo apenas defeito parece-me mais inveja do que crítica construtiva.
A cidade era uma buraqueira só. Todas as ruas e principalmente o Centro eram intransitáveis. Fizemos um microrrevestimento nas principais vias e hoje, onde era impossível andar de carro sem risco de quebrar uma roda, está bem melhor e sem buraco. Ah, e sem usar “saquinhos de asfalto” que além de esteticamente pior são mais caros e menos eficientes. Mas os engenheiros de Facebook só enxergam o lado negativo. Nunca, nada está bom. O povo está infeliz.
Se vivêssemos no tempo de Jesus Cristo e Ele viesse até nós andando sobre as águas, iríamos dizer:
– Mestre, o senhor não sabe nadar?