Nos idos dos anos 80, fiquei de acompanhante do meu irmão mais velho no Hospital Montenegro. Meu irmão mais velho, cujo nome é Valter, mas, se chamá-lo assim, talvez você, que o conhece, não saberá de quem estou falando, pois possui vários apelidos.
Alguns o conhecem por Buldogue, outros por Sassá e há aqueles que o chamam de Seu Madruga. Bem, ele é uma espécie de faz tudo. Se você precisar de um eletricista, ele vai. Se quiser um pedreiro, opa lá vem ele. Preciso consertar minha máquina de lavar. Chama o Valter. Trocar o piso. Valter. Arrumar a jarra elétrica que parou de funcionar? Sassá. Enfim, ele “atira” em todas. Nunca se apertou. Não é macaco gordo, mas sempre quebra o galho.
Pois bem, estava no Hospital por ter sido submetido a cirurgia em um dos ouvidos. Valter sempre teve problemas no ouvido, desde criança. Talvez fruto dos banhos de sanga no Saco Triste ou da água fria da torneira, quando morávamos no sopé do Morro São João.
Desta vez, havia piorado bastante a dor e foi necessária intervenção para tentar amenizar seu sofrimento. Nesse tempo, ainda não havia o SUS, mas o hospital atendia muito bem. Foi tudo gratuito. Não lembro e nunca perguntei se foi bem sucedido o procedimento, apenas sei que ele ainda tem pouca audição em um dos ouvidos.
Foi no Hospital que presenciei uma cena que até hoje não esqueço. Ouvimos um burburinho e som de sirenes. Pensei tratar-se de ambulância, afinal, estava num hospital. Não era. Ao olhar para baixo pela janela, vi vários carros de polícia e outros dois carros, um fusca e uma Kombi, com as portas abertas.
Dentro de cada um dos carros, no banco da frente, dois homens mortos. Os dois ensanguentados. Um deles todo cheio de cortes. O outro com vários tiros. Pessoas se aglomerando em volta. Os policiais contendo a multidão.
Deixei meu irmão sozinho e desci. Que povinho curioso nós somos. Eu que não ia ficar no quarto com aquela cena de filme a pouco metros de mim. Soube então que as duas vítimas haviam se enfrentado e um assassinado o outro em frente ao bar do Sete. Um com faca, outro com tiros. O que havia sido esfaqueado conseguiu efetuar disparos mortais no seu agressor e os dois acabaram morrendo. Talvez fosse uma rixa antiga. Pesquise nos jornais da época porque essa história é verdadeira.
Assim também podemos pesquisar no IBIÁ sobre as dificuldades do Hospital Montenegro, cenário deste relato. Veremos que não é de hoje que o nosso nosocômio enfrenta problemas. Perdi as contas de quantas vezes li ou ouvi que o HM estava para fechar.
Fruto de má gestão e desvios do passado (pesquise também sobre uma certa época bem remota), ou atualmente, de mudanças que prejudicaram ainda mais seu orçamento, novamente corremos o risco de ficar sem essa importante casa de saúde da cidade e da região. Mudanças essas feitas sem conversar ou pensar em toda uma região que é atendida pelo HM. A saúde deveria ser prioridade para o Governo Estadual e Federal, mas não é assim, infelizmente. E responsabilidades que deveriam ser satisfeitas por esses dois acabam sendo absorvidas e atendidas pelo município para que a população não fique desassistida. A Administração agiu rápido e procurou o HM e a Secretaria Estadual de Saúde para encontrar saídas para a nova crise. Oremos para que seja suficiente.