Getúlio Vargas governou de forma ditatorial o país entre dois golpes de Estado, de 1937 – quando comandou o golpe – a 1945, quando foi deposto por um movimento de militares que compunham seu próprio ministério. Mesmo ditadores deixam saudades entre o povo, pois voltou ao poder em 1950 pelo voto popular, agora como o “pai dos pobres”.
Quando arriado do poder, uma ordem oficial por parte dos militares, exigiu a retirada dos retratos de Vargas de todas as repartições públicas do país. Sacumé, quem não é visto não é lembrado! Os generais não haviam aprendido ainda a lição de que não basta retirar retratos das paredes para eliminar adversários. E Getúlio voltou ao poder nos braços do povo.
Para marcar a possível eleição de Vargas, Haroldo Lobo e Marino Pinto compuseram uma marchinha de carnaval que, interpretada por Francisco Alves, tornou-se o jingle da campanha eleitoral do ex-ditador e estourou na festa momesca de 1951, reproduzida de norte a sul do país pelas estações de rádio. A música era “Retrato do Velho”.
“Bota o retrato do velho outra vez / Bota no mesmo lugar / O sorriso do velhinho faz a gente trabalhar … “
Vargas eleito, de 1951 a 1954, quando deixou a vida para entrar na história, seu retrato voltou a enfeitar as paredes das repartições públicas federais. Tornou-se cultural no Brasil o fato de autoridades se exibirem em fotografias de parede nas repartições, na visível intenção de personificação das funções de Estado. O Estado sou eu, essas coisas.
Os retratos na parede, entretanto, podem ter outro objetivo. Contar-nos a história, por exemplo.
O hall de entrada da Prefeitura de Montenegro ostenta um mural com fotos de todos os prefeitos que governaram o município. Todos, não, percebeu a coluna Observatório Político do Jornal Ibiá. Estão faltando as fotos dos ex-prefeitos Paulo Azeredo e Luiz Américo Aldana. Como o Jornal lembra, ambos sofreram impeachment, causa negada pela Secretaria Geral do Município para a defecção dos retratos. A responsabilidade pela manutenção da galeria de ex-prefeitos é da Secretaria Geral, mas quem deve prover as fotografias são os próprios, ou a família dos falecidos, como é o caso de Aldana.
Paulo Azeredo não demonstrou interesse em ceder fotografia para a galeria. Em tom galhofeiro, alega que enviará fotos em uma futura e incerta eleição.
Uma coleção histórica deveria ser tratada com maior interesse pelo Poder Público. Tomar para si a responsabilidade de manter e atualizar o acervo de fotos de todos os prefeitos, como forma de preservar parte da memória do município, deveria constar da lista de prioridades do atual Governo, se não para valorizar a história, a educação e a cultura, para sair bem na foto, futuramente – com o devido perdão pelo intencional trocadilho. Talvez, melhor estivesse o acervo no Museu Municipal, sob os cuidados da Secretaria da Educação e Cultura.
Quanto ao ex-prefeito Paulo Azeredo, que se dê pressa. Se chupar muita bala, pode acontecer de o Ferreirinha dependurar um retrato na parede da Prefeitura antes dele.